título: mega da virada
data de publicação: 28/12/2022
quadro: amanhã é um novo dia
hashtag: #mega
personagens: joilton, seu miguel e dona aurora
TRANSCRIÇÃO
[vinheta] Especial de Ano Novo, um especial que é a cara do Não Inviabilize. [vinheta]Déia Freitas: Oi, gente… Cheguei. Cheguei pra mais uma história do nosso especial de Ano Novo, este ano focando em esperança e falando um pouco de solidão. E hoje eu vou contar para vocês a história do Joilton. — Ê, Joilton… [risos] — Então vamos lá, vamos de história.
[trilha]
Eu preciso antes contar uma passagem bem antes dessa história… [efeito sonoro de fita rebobinando] Joilton cresceu ali como o pai dele, seu Miguel e sua mãe, Dona Aurora. E, quando ele tinha 20 anos, o pai dele, o seu Miguel, de presente para ele — para o Joilton ter um pouquinho mais de liberdade — fez no fundo da casa ali uma casa para Joilton. Joilton vivia ali naquela casa, nos fundos da casa dos pais, só que a mãe dele cozinhava pra ele, a mãe dele lavava para ele, a luz e a água era ligada na casa dele… Então, quer dizer, Joilton [risos] só se deslocou em espaço, né? Porque ele não tinha independência nenhuma. Na época, Joilton nem trabalhava, o pai dele só quis dar um pouco mais de privacidade para ele.
Aí Joilton começou a trabalhar, mas as coisas seguiam da mesma forma ali, ele tinha roupa, comida… — Tudo ali feito pelos pais. — E Joilton nesse trabalho que ele conseguiu, ele estava já há um ano e ele conheceu a moça… Conheceu uma moça, começou a namorar a moça e resolveu convidar a moça pra morar com ele. A partir do momento em que ele fez esse convite, seu Miguel virou para ele e falou: “Bom, tá bom, então você vai constituir família, né? O primeiro passo pra você constituir família… Eu não vou te cobrar aluguel, tá? Mas você tem que pagar suas contas, né? Porque agora você vai ter uma esposa, futuramente vai ter filhos, então você precisa ter essa noção das coisas”. E aí, seu Miguel foi lá e tirou água e luz da conta dele, colocou outro relógio de água, outro relógio de luz… Quem pagou aí para separar essas coisas foi o Seu Miguel mesmo. E aí botou ali no nome do filho as contas que seriam da casa lá do filho, né? Já que ele ia morar com a moça.
Joilton ficou meio ofendido com isso, porque ele achou que o pai tinha que, sei lá, dar uma força para ele nesse começo. Mas o pai já estava dando uma força pra ele… Ele estava morando ali na casa… A mãe, Dona Aurora, continuou cozinhando para o filho e ali para a nora… Mas quem comprava toda a comida era o seu Miguel ainda. Então, o seu Miguel estava dando força, ele não cortou isso da comida. Só que a nora começou a reclamar do tempero das comidas que Dona Aurora fazia… Dona Aurora falou: “Bom, então você tem suas coisinhas aí na casa, então é melhor você cozinhar, né? Assim você faz a sua comida do jeito que você quer, pra você e pro Joilton”. [risos] Já amo esse casal… E aí, gente, Joilton ficou ofendido… E como agora estava tudo separado, né? E Joilton muito ofendido ali, orgulhoso, resolveu sair da casa do pai e cortar relações com o pai. — Porque ele achava que tudo era culpa do seu Miguel. — Aí eles alugaram uma casa, ele e a moça e foram morar nessa casa. E o casamento aí, eles não casaram no papel, estavam juntos ali, esse casamento durou, depois que eles saíram ali da casa do seu Miguel e da dona Aurora, quatro meses. — Porque é difícil, né? Você fazer tudo, você pagar tudo… É assim que é a vida, né, Joilton? A vida é isso. —
Ele não falava nem uma palavra com o pai, ele só conversava muito pouco agora com a mãe. Joilton resolveu que ele não ia voltar pra casa. E aí ele dividir apartamento com outros rapazes, que também aí é uma vida dura, né? Você tem que lavar suas coisas, você tem que fazer a sua comida e às vezes outra pessoa come a sua comida… Então estava muito bom lá, né? Quando ele morava no mesmo quintal que o pai dele. — Eu aqui, eu e a Janaína, a gente mora no mesmo quintal… É tudo separado, a luz separada… Minto… A água é junto, porque a gente tem muito bicho, então a gente não separou a água e nunca deu problema… A gente paga, não tem problema. E, se você consegue estabelecer esses limites no quintal, nessas coisas, na sua casa, dá para viver super bem. Eu vivo aqui na minha casa, a Janaína na dela, no mesmo quintal… É ótimo pra gente. E era ótimo para o Joilton também, né? Só que ele queria coisas que, poxa… Não é um hotel, você não tá aí no Pônei Hilton, [risos] né, Joilton? — E aí o Joilton foi morar aí nessa república e seguiu a vida dele. — Rompido com o pai, enfim… —
Os anos foram passando… Dez anos se passaram sem que Joilton falasse com o pai, nem em Natal, Ano Novo, aniversário, nada… Nesses dez anos, o Joilton adquiriu um hábito de jogar na Mega-Sena. Então ele jogava aí toda semana, não tinha números fixos, assim, números variados, enfim… E ele tinha uma mania, tipo assim, ele jogou hoje e saiu o resultado. — Tem aqueles números do resultado… — No próximo jogo que ele fazia, ele fazia os números aleatórios mais aquele resultado que tinha saído do jogo anterior. — Não sei se dá pra entender. — E aí ele seguiu fazendo esses jogos, todo semana ele fazia e, quando chegava na Mega da Virada, ele pegava um pouco mais de dinheiro pra fazer mais jogos. Ele foi fazendo ali daquele jeito os jogos dele, deu ali a Mega Sena… Antes da Mega da Virada deu os números, ele pegou aquele canhotinho, fez os números da Mega da Virada, enfim, tudo certo… Joilton não conferiu na virada… Ele passou esse ano novo na República. Todo mundo tinha ido viajar, ele ligou pra mãe dele, a mãe dele ainda falou: “Poxa, vem pra cá” e ele não ia, não dava o braço a torcer, né? E aí ele ficou ali, não viu na hora os números da Mega da Virada… No outro dia, depois do Ano Novo, no dia um, novo primeiro dia do ano, que Joilton foi conferir ali os números… — Gente, o Joilton ganhou a Mega da Virada. —
Joilton ganhou a Mega da Virada… Gente, o Joilton na hora ele ficou passado, sem voz, sem saber o que fazer e com aquele primeiro medo do pobre que ganha dinheiro, que é: ser sequestrado, ser morto… — Pelas pessoas do mesmo bairro. [risos] É isso, não adianta, [risos] é isso… — Aí Joilton passado, sem poder falar pra ninguém porque ele tinha esse medo, né? Ele falou: “Vou ligar pra minha mãe e contar para minha mãe”. E a cabeça do Joilton tava um turbilhão… Ele ganhou a Mega da Virada, agora ele era milionário… E ele só podia ir no dia seguinte na Caixa Econômica retirar o seu prêmio, porque não sei se você sabe, todos os jogos da loteria, dependendo do valor, acho se for acho até dois, três mil reais você saca, consegue retirar ali na lotérica mesmo com seu documento e com a apostazinha, né? Que tem o código de barras lá pra eles autenticarem e tal. Agora, se for um prêmio maior, você tem que ir até uma agência da Caixa Econômica pra reivindicar o seu prêmio, enfim…
Então era dia primeiro, feriado, tudo fechado, só no dia dois que Joilton ia poder ir até a Caixa Econômica. E aí Joilton pegou ali telefone e ligou para a mãe dele… Ele tinha que contar para a mãe dele. Aí ele falou: “Mãe, a senhora tá sentada?”, Dona Aurora já pensou: “Tragédia. Aconteceu alguma tragédia, aconteceu alguma coisa”. Joilton falou: “Mãe, eu ganhei a Mega da Virada”. Na hora a dona Aurora já ficou, assim, em choque e já falou pra ele: “Cuidado, meu filho, não fala pra ninguém e nã nã nã”. E aí o Joilton falou para ela que no dia seguinte ia na Caixa Econômica e depois dava mais detalhes e nã nã nã, enfim, conversaram um pouco, desligaram… Joilton mal conseguia andar, não conseguia comer, não conseguia falar, não conseguia nada… Ele ganhou a Mega da Virada. — Gente, imagina a sensação de você olhar número por número e ser o número da Mega. Saiu ali todos os números… —
Aí Joilton passou o dia ali pra lá e pra cá pensando como o que ele ia fazer com aqueles milhões, ia deixar um tanto no banco, não queria ter uma vida pra chamar muita atenção… Mas no dia seguinte já ia, depois de passar na Caixa Econômica, já ia pedir demissão… — Primeira coisa. [risos] Ficou milionário, a primeira coisa é se demitir… Óbvio, né? — E aí Joilton pegou aquele bilhete, acariciando… Porque o bilhete da Mega da Virada vem escrito ali “Mega da Virada”, bonitão, né? Acariciando queles números e tal, ele falou: “Vou olhar de novo, quero dar aquela conferida de novo pra ter aquela emoção mais uma vez”. E ele tinha visto em vários sites porque sai em tudo quanto é lugar, né? E aí ele foi no site da Caixa ali olhar, que era onde ele também já tinha ido ver, enfim, foi de novo… E, quando ele olhou os números… — O que Joilton fez? — Joilton jogou na Mega da Virada os números que tinha dado ali naquela Mega-Sena anterior. E, na hora de conferir, ele não viu o numero lá da Mega da Virada, ele viu o número anterior… [efeito sonoro de suspense]
Então ele estava comemorando com os números certos no concurso errado. Ele jogou os números daquele concurso anterior que tinha saído, todos os números, né? E, óbvio, se ele olhasse no concurso anterior com o bilhetinho da Mega que ele fez, ele ia ver os números, mas era outro concurso. Então Joilton errou na hora de conferir… Então, em praticamente, sei lá, umas oito horas que demorou pra ele conferir de novo, ele foi do milionário do ano para o pobre Joilton novamente… E aquilo, gente, destruiu Joilton… Ele não sabe dizer o que aconteceu com ele naquele momento, que ele tinha pensado tanta coisa… Que ele só pensava: “Mano, eu sou um bosta… Eu não consegui nem conferir direito o jogo, agora minha mãe está achando que eu sou milionário e eu não consigo nem contar pra ela que eu vi errado”. E aí ele chorou, chorou, chorou e ficou mal realmente por ele, né? Por ele não ter visto direito, enfim… E aí, quando foi um pouco mais tarde, a mãe dele ligou porque ela estava preocupada, era muito dinheiro… E aí o Joilton ainda tava chorando e ele falou: “Mãe, eu não sirvo pra nada, eu vi errado o resultado. Eu não ganhei nada, que isso e que aquilo”. E contou para a mãe dele…
A mãe dele falou: “Ah, filho…”. A mãe dele, dona Aurora, ela pensa como eu… [risos] Ela ficou meio que aliviada, que ela falou: “Ai, filho, menos mal, esse dinheiro podia te dar dor de cabeça”. [risos] — Eu penso um pouco assim também… Essa coisa de acumular dinheiro, sei lá… — E aí ela conversou com ele ali, consolou Joilton e tal, desligou… E Joilton passou aquela noite mal, deu dia dois e ele foi trabalhar se arrastando, muito triste… O pessoal da firma perguntando: “O que foi? O que foi”, “Nada, não, tá tudo certo. Está tudo bem”. O Joilton passou aquela semana mal, assim, falou pouco a mãe, estava bem, assim, arrasado, né? E um dia ele estava saindo da firma… Era o dia dele fazer o jogo da Mega e, na porta da firma dele, estava o seu Miguel, pai dele.
E na hora ele viu e assustou porque, poxa, mais de dez anos rompido com o pai… — Por iniciativa dele, por coisas mimadas de Joilton, né? — E o pai estava lá na porta da firma. O pai chegou e falou pra ele: “E aí, moleque, tudo bem?”. Na hora, o olho do Joilton já encheu de lágrimas, assim e ele durão, né? Falou: “Tudo bem, velho?”, ele falou: “Então, vim aqui te pegar pra gente ir lá na lotérica fazer o jogo”. Por quê? Essa tradição de fazer o jogo da Mega — agora eu tenho aqui essa informação pra vocês — tinha começado com o seu Miguel… Eles faziam os jogo juntos e, quando Joilton foi morar sozinho e tal, que teve aquela briga e tal, depois de um tempo ele voltou a fazer o jogo sozinho.
O seu Miguel foi conversando com ele ali e eles fizeram o jogo da Mega… E ali ele abraçou o filho, deu risada… Não tocaram no assunto nenhum. Ali ele entendeu que ele precisava pedir uma desculpa para o pai. E aí ele falou: “Pai, me desculpe, eu fui um idiota esses anos e tal”, seu Miguel falou: “Não, esquece, deixa disso. Como é que você tá?”. E aí conversar um pouco, aí Joilton falou que estava lá na república e tal. E aí ele falou: “Vamos lá em casa, vamos tomar um café lá, sua mãe fez um bolo”, e ele foi e ele viu que a casinha dele estava lá… E o seu Miguel falou: “Você não quer voltar aí? Volta aí… A gente religa água, religa luz… Separado” e ainda riu, Joilton riu também e, naquele início de ano, depois daquele ano novo da Mega da Virada que marcou tanto o Joilson e que na hora ele viu errado ali os números, o pai dele foi até a república ajudar o Joilton a fazer a pequena mudança ali das coisas que ele tinha de volta pra casa dos pais. — Para casa separada ali dos pais. —
Hoje o Joilton mora lá na casa dos fundos da casa dos pais, do seu Miguel e Dona Aurora. Ele casou, tem um filhinho e é tudo separado… Água, luz… Eles convivem muito bem. A esposa do Joel é ponta firme também… E deu tudo certo, né? — Convivência é, gente… — E aí o Joilton me falou: “Poxa, Déia, eu passei mais de dez anos sozinho Natal, Ano Novo porque eu quis, porque eu fui um idiota… E depois, quando eu estava mal, minha mãe contou”. Dona Aurora contou pro seu Miguel o que tinha acontecido. Seu Miguel conhecendo o filho como como o conhecia, falou: “Poxa, o moleque deve estar ruim…” — “Moleque”… Já estava com trinta e poucos, né, Joilton? — “Pô, o moleque deve estar mal e tal” e foi lá na porta da firma fazer as pazes desse jeito, sem ninguém falar nada, os dois ali indo fazer o jogo da Mega juntos. E eles continuam fazendo o jogo da Mega da Virada todo ano aí… Quem sabe, né? Um dia…
[trilha]
Léia: Oi, Não Inviabilizers, meu nome é Léia, sou aqui de Santo André, sou vizinha e amiga da Janaína e da Andréia e queria desejar um excelente 2023, maravilhoso, recheado de histórias com muito suspense, muita alegria, muita aventura. E falar para vocês assinarem o podcast, apoiar a Déia porque não tem como ficar na espera, né, gente? A gente ouve um episódio e já quer ouvir o outro. Então bora lá, feliz 2023 a todos.
[trilha]
Déia Freitas: Então, essa é mais uma história de esperança, de vida que mudou, de um passo que se deu pra trás e de uma reconciliação que aconteceu. Às vezes por uma briga besta a gente fica mesmo sem falar com quem a gente ama por muito tempo. E o seu Miguel foi aí muito nobre e deu esse passo… Foi lá, acolheu o filho e as coisas voltaram aí pra um lugar de muito amor e muito aconchego que o Joilton teve antes e perdeu porque quis também, né? Mas às vezes a gente tem que dar esses tropeços na vida mesmo e uma hora o mundo gira e a gente volta, né?
Então, agora eu vou deixar aqui pra vocês 6 números aleatórios da minha cabeça pra você jogando na Mega-Sena. — Já pensou se a gente ganha? Ia dar um real pra cada um se todo mundo jogar. [risos] Mas quem sabe, né? — Então, ó, eu vou dar 6 números: [efeito sonoro de tensão] 18, 32, 34. 53, 58 e 59. Bem improvável, né? De dar esses números. [risos] Mas eu fiquei em dúvida até que o número que ia a Mega. É até 60? Até 59? Não sei, falhei aí… Mas fica aí os números, a dica, né? Quem quiser jogar na Mega e ganhar, depois me paga aí um Picolé de Limão. [risos] Bom, seguimos aqui com o nosso especial de Ano Novo. — Amanhã é um novo dia. — Um beijo, gente e amanhã eu tô de volta.