ménage

título: ménage
data de publicação: 13/05/2024
quadro: picolé de limão
hashtag: #menage
personagens: vitória e bruna

TRANSCRIÇÃO

[vinheta] Picolé de Limão, o refresco ácido do seu dia. [vinheta]

Déia Freitas: Oi, gente… Cheguei. Cheguei para mais um Picolé de Limão. E hoje eu não tô sozinha, meu publiii. — [efeito sonoro de crianças contentes] Quem tá aqui comigo hoje? — Gente, vocês não vão acreditar… Adivinha? — A Pantynova, Pantynova que eu amo… Se você procura uma conversa leve, divertida e informativa sobre bem-estar sexual, na Pantynova você vai encontrar. — O episódio de hoje ele tá aí num híbrido entre Picolé de Limão e Pimenta, por isso a Pantynova tá aqui, tá? [risos] Então, ouça primeiro e avalie aí se você quer deixar alguém menor de 18 ouvir, tá bom? — E a Pantynova ela está aqui para tornar a sua vida ainda mais prazerosa, com vibradores e lubrificantes incríveis. E adivinha só? A Pantynova tem uma super novidade que eu vou compartilhar com vocês no finalzinho do episódio. — Então fica aqui, mas você ouvinte aí de Picolé de Limão, já vai navegando em: pantynova.com, o site é lindo, informativo, cheio de produto bacana… Vai navegando aí e me ouvindo. — E fica aqui com a gente até o final que tem cupom de desconto, tá? 

E hoje eu vou contar para vocês a história da Vitória e da Bruna. — Tem zona cinza, então é isso.. Tamo aí numa zona cinza. — Um adendo: a partir de agora, toda vez que você ouvir aí “Ministério do Trabalho” está errado, o certo é: “Justiça do Trabalho”. Eu, burra, óbvio, errei. Peço perdão a todos. Então, não é Ministério do Trabalho, é Justiça do Trabalho. Justiça do Trabalho. Justiça do Trabalho. — Ê, Andreia… — Então vamos lá, vamos de história. 

[trilha] 

Vitória e Bruna trabalham num quiosque — de um shopping — onde os bastidores, é um trabalho péssimo, assim, com um gerente super abusivo e tudo muito, muito, muito errado. Assim, o trabalho delas é péssimo e as duas, tanto a vitória quanto a Bruna, realmente precisando trabalhar. — E o que acontecia? — Esse gerente que era péssimo com todas ali, ele tinha um jeito de fazer ali o assédio moral de uma maneira que elas não conseguiam provas, elas não conseguiam provas… E o que elas queriam era tirar aquele gerente de lá e ninguém conseguia tirar, porque supostamente, ele teria um caso com a dona da rede de quiosques, então era impossível, ele mandava as meninas embora, humilhava, inventava justa causa, mentia que as meninas roubavam. Então, assim, o cara era o demônio, o demônio, o demônio…

E a Vitória e a Bruna elas tinham que trabalhar… — Se você veio da classe C, como eu, você dificilmente você vai pedir a conta, porque o dinheiro que você vai perder pedindo a conta, faz muita diferença no orçamento. Então, o que você pensa? Você torce para ser mandada embora e você sabe que também você não pode ali pisar muito na bola, porque senão você leva uma justa causa. Então, você fica torcendo, você faz o mínimo ali, torce para ser mandada embora, porque aí depois você tem as parcelas do seguro—desemprego. — Por exemplo, como eu fazia? Eu jamais deixei de lado uma parcela do seguro—desemprego. Então, se eram cinco meses que eu recebia seguro—desemprego? Eu arrumava um bico, sem registro, porque a partir do momento que você é registrado, você perde o seguro—desemprego. Eu arrumava um bico qualquer para receber o seguro—desemprego e ter um complemento da renda com o bico, assim… Dava para viver? Bem minimamente, mas dava. Então esse também era o pensamento ali da Bruna e da Vitória, né? “Poxa, a gente vai sair e como é que vai ser isso?”. Você vê, né? Qualquer hora é hora para gente aí falar sobre os direitos do trabalhador. —

Existe dentro do regime de trabalho CLT uma coisa chamada “rescisão indireta”. — O que é uma rescisão indireta? — Quando você está numa empresa como essa, péssima, abusiva e a empresa comete alguma coisa grave com você, mas não resolve e nem te demite, nada, você não quer mais ficar ali, você pode entrar no Ministério do Trabalho com o pedido de rescisão indireta. O que é isso? Você força a empresa a te demitir e a pagar todos os direitos. Então, assim, pode ser que dê certo, pode ser que não dê, mas você precisa de alguma prova dessa falta grave, ok? Só que esse cara abusivo ele fazia tudo muito escondido, assim, não tinha como. Bruna e Vitória muito ferradas trabalhando naquele quiosque. — Eles não pagavam hora extra, elas trabalhavam 12h, enfim, em época de festas assim, 15h, olha, um inferno. — Paralelo a isso, Vitória… — Quem me escreve é a Bruna com Vitória sabendo, né? Mas aqui a Vitória mais no centro da coisa. — Vitória estava ali nos aplicativos de relacionamento. Passa um ali, “esse é bonito, vou curtir”, “esse não vou curtir”, “esse vou mandar direct” e não sei o que lá… 

E, assim, ali pelo shopping que elas trabalhavam corria uma história de um cara que tava ali nos aplicativos e era dono de loja, que ele só gostava de sair com menina nova… Dava uns presentes ali para as meninas, enfim, era assim… Ele era um tiozão que gostava de sair com menina nova, tratava as meninas bem, tudo, mas também tinha esse lado que ele não ficava com nenhuma, ele enfim, ninguém sabia se ele era casado, se ele não era, sabe uma incógnita? — E aí aqui a Bruna pediu pra eu dar nome pra ele, então a gente vai dar nome pra ele e o nome dele vai ser “Orlando”. — Tinha essa história no ar do Orlando, dono de loja… Então, por exemplo, se você quisesse trabalhar, você ia lá… Ele não era um cara que assediava as meninas, nada, mas se ela quisesse sair com ele, saía, enfim. — Eu fui gerente de lojas por muitos anos e eu acho muito problemático esse cara, dono de loja, que só sai com novinhas e contrata as novinhas pra trabalhar na loja. — Então, a Bruna não via problema nisso, nem a Vitória e é por isso que elas pediram pra eu dar nome pra ele e eu estou dando o nome pra ele aqui, porque a gente não estava nessa situação. 

Vitória achou Orlando no aplicativo, ela deu um match com o Orlando e eles começaram a conversar e ela falou que era do quiosque, que isso e aquilo, e aí falou pra ele que tinha uma amiga chamada “Bruna” e qual era uma coisa que elas sabiam de uma outra menina que tinha saído com ele? Esse Orlando era louco pra fazer um ménage louco, louco, louco, pra fazer um ménage e não sei por que não dava certo, não rolava, sei lá… E a Vitória teve uma ideia: Ela começou a conversar com o Orlando, saíram do direct, foram ali para o WhatsApp, e aí ela fez FaceTime com ele e chamou a Bruna, mostrou a Bruna e ali a Vitória começou a alimentar essa ideia do ménage entre Orlando, Vitória e Bruna. Bruna já ali também sabendo do plano da Vitória e as duas começaram a alimentar, então eles faziam FaceTime assim e falavam putaria um pro outro, o que eles iam fazer, que isso, que aquilo: “Não, porque, nossa, vai ser show, [risos] vai ser muito bom” e tudo ali muito focado no sexo, no ménage… — Sexo, ménage. — E o Orlando animado, ele foi muito educado e falou: “Posso mandar aí a foto da minha rola pra você?”, aí ela falou: “Pode, manda foto de rola”. [risos] “Só que a gente não vai mandar nada ainda, a gente quer ficar no suspense”, Vitória e Bruna. 

Então, quando elas faziam FaceTime com ele, às vezes ali na casa da Vitória, na casa da Bruna, elas estavam ali com um decote maior, mas nunca mostraram nada, deixava só ele bem excitado, assim… E aí a Vitória foi conversando com ele e um dia ele quis fazer FaceTime, ela falou: “Olha, hoje eu não tô a fim, nem sei se vai rolar mais nosso ménage, eu não ando com a cabeça boa…” e falou: “Nossa, mas o que foi? Eu posso ajudar?”, doido, né? Por que como assim vai perder o ménage? E aí ela explicou que elas queriam entrar com o pedido de rescisão indireta — ele sabia do que se tratava porque ele era um dono de loja —, só que elas não tinham prova nenhuma, então provavelmente elas iam perder, elas precisavam de uma testemunha… Ela fez de um jeito que o Orlando falou: “Eu posso ser testemunha de vocês”. — Por que o que acontece? Geralmente quando você entra no Ministério do Trabalho com um pedido de rescisão indireta, pode ser que a empresa, com o advogado da empresa, te chame antes para conversar. — Então, qual era a ideia dela? Se ela tivesse uma testemunha pra falar antes, elas poderiam retirar o pedido de rescisão indireta e a empresa mandar elas embora normal, sem chegar a virar um processo do Ministério do Trabalho.

E assim foi, elas entraram com o pedido de rescisão indireta, a empresa foi notificada e a empresa chamou as duas para conversar. E aí as duas foram numa primeira conversa e falaram que elas tinham uma testemunha sobre esse gerente. E aí aqui entra a figura de mais donos daquela rede — não era só aquela mulher que saía com o gerente, tinham mais donos —, o advogado e a moça do RH: “Então, quem é a testemunha?”, e aí foi marcado uma segunda reunião e o Orlando foi lá e falou que já viu ele sendo abusivo, ele gritar, ele xingar e, assim, o cara fazia tudo escondido, mas o Orlando mentiu que tinha visto sim, que ele era testemunha. E aí a empresa falou: “Bom, o que vocês querem, né?”, e aí elas falaram: “Olha, ele faz isso com todas as meninas, então o ideal é que ele seja demitido, mas a gente também não quer ficar, a gente quer que vocês mandem a gente embora”. Então elas conseguiram com que o cara fosse demitido e elas também fossem demitidas. — Só que elas queriam ser demitidas… — O cara ficou muito chocado quando ele viu o dono da loja e tinha um peso, né? Era um dono de loja ali que estava falando que ele era abusivo e realmente o cara era podre, gente, podre, podre, podre…  —Então, zona cinza total, porque, né? Foi uma pessoa que não tinha visto nada e mentiu, elas podiam estar mentindo também e o cara entrou na delas, mas no caso não, porque assim, depois foi ótimo para todas as outras funcionárias que ficaram no quiosque, eles só contratavam mulheres. Então entrou uma gerente mulher, então melhor ainda, né? —

Agora elas estavam com a cabeça fresca e era hora do ménage, e aqui tá outra zona cinza, porque primeiro que o cara foi lá e mentiu para o advogado e para a moça do RH da empresa delas, mas se a gente for botar na balança ali, um chefe abusivo e assediador foi mandado embora e elas conseguiram a rescisão que elas queriam para poder receber o seguro—desemprego também e depois procurar um trabalho melhor. Por outro lado, tinha o Orlando que só fez isso em troca do ménage… Só que desde o começo elas nunca pensaram em fazer um ménage com Orlando, o Orlando tinha idade para ser pai delas. Então agora elas tinham que despistar o Orlando… E aí elas continuaram com o FaceTime mais um pouco com ele, e aí a vitória um dia [risos] comentou com ele que estava com umas manchas, umas coceiras e um cheiro ruim na vagina, que ela ia atrás para ver o que era e que ela ia ficar um tempo tratando, “mas que não, vamos sim ter um ménage” e aí ele foi ficando… — Acho que ele foi perdendo o tesão, porque ela ficava falando muito da secreção da vagina dela. [risos] —

E aí o cara foi pegando um ranço, assim, e foi diminuindo a conversa e acabou que morreu a história do ménage. As duas foram demitidas do jeito que elas queriam, com todos os direitos, — elas retiraram o pedido de rescisão indireta e acabaram sendo mandado embora normal —, receberam o seguro—desemprego, não mandaram nenhum nude para eles, só fizeram esses FaceTime, assim, mais sexy e tal, até o cara ir depor lá, dar o depoimento dele na empresa e não fizeram o ménage. Enganaram o cara. [risos] Enganaram o Orlando, conseguiram que o Orlando fosse lá mentir por elas na empresa, conseguiram demitir o cara e as duas foram mandadas embora. Vitória com 21 anos e Bruna com 19… — Gente, quando que com 21 anos eu ia ter essa cabeça? Para pensar em tudo. Vitória estrategista, vai. — Bruna falou: “Olha, eu sei que vai ter muita gente criticando, mas só quem viveu sabe, só quem teve um chefe abusivo que te humilhava, te fazia as coisas sem você conseguir provar e que assediava as meninas sem você conseguir fazer prova… Só quem passou por isso sabe. E, por outro lado, também tinha um tiozão que só queria se aproveitar da gente. Ele era legalzão? Era, mas ele só queria um ménage. Pra ele ir lá e falar que tinha visto o cara ser abusivo, foi nada pra ele”. Então, o que vocês acham? 

[trilha]

Assinante 1: Oi, gente, eu sou a Adriana do Rio de Janeiro. [risos] Eu nem sei o que falar… Vitória, Bruna, heroínas da classe trabalhadora, tem que virar coach e abrir um workshop pra ensinar a gente todos esses truques. Maravilhosas, maravilhosas… Não tem zona cinza, não existe zona cinza. Se erraram, foi tentando acertar e tá tudo bem, o meu pano rosa de glitter está pronto pra ser passado pra vocês. Só quem sofreu o assédio, só quem trabalhou em empresas ruins que fingem que não sabem, porque elas sabem sim quando tem um funcionário assediador, tanto moral e muitas vezes sexual também… As empresas sabem, mas fecham os olhos por conta dos resultados. Só quem passou por isso sabe. Parabéns, meninas… Divas. 

Assinante 2: Oi, Déia, oi, Não Inviabilizers, meu nome é Beatriz, sou de Criciúma, Santa Catarina, mas atualmente estou morando em Portugal. Na minha opinião, não existe zona cinza porque Vitória e Bruna são visionárias. E, embora a testemunha seja falsa, a história não é. Então sim, o Orlando foi lá e mentiu, mas elas sabiam que era verdade, então acho que não estão erradas e tudo o que você puder fazer para ferrar um chefe otário, um chefe péssimo, você deve fazer. Em relação ao Orlando, elas nunca pediram para ele ir lá testemunhar, ele se dispôs a fazer isso, então ele não deveria ter feito esperando algo em troca. E, assim, de certa forma, ele também não está nem aí, porque depois a Vitória inventou a história para não ter que fazer um ménage com ele e com certeza ele foi para outra, né? Então, para mim, tudo certo. Um beijo. 

[trilha] 

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[vinheta] Quer a sua história contada aqui? Escreva para naoinviabilize@gmail.com. Picolé de Limão é mais um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]