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título: predinho
data de publicação: 25/03/2024
quadro: picolé de limão
hashtag: #predinho
personagens: gilmara

TRANSCRIÇÃO

[vinheta] Picolé de Limão, o refresco ácido do seu dia. [vinheta]

Déia Freitas: Oi, gente… Cheguei. Cheguei pra mais um Picolé de Limão. E hoje eu vou contar pra vocês a história da Gilmara. Então vamos lá, vamos de história.


[trilha]


A Gilmara ela trabalha numa agência de publicidade e ela é uma pessoa muito bacana, que se veste de uma maneira um pouco diferente e ela foi trabalhar numa agência que era muito longe da casa da mãe dela. Já estava mesmo na época de Gilmara sair de casa, os pais davam essa força e Gilmara conseguiu um apartamento — sabe aqueles apartamentos que você fala: “Poxa, pra estar esse preço só pode ser assombrado?”, ela achou um desse — num predinho de oito apartamentos… — Nesses predinhos que não tem elevador, sabe? — E aí, Gilmara foi lá, viu o apartamento era perfeito pra ela, tinha um preço realmente muito bom, ela não entendia porque estava meio abaixo esse aluguel, né? E Gilmara alugou… O pai dela foi o fiador, tudo certinho.


Aí os amigos fizeram a mudança e aí sabe quando você termina a mudança que você pede umas pizzas e umas cervejas? Isso era umas sete horas da noite. — A gente sabe que prédio depois das dez é embaçado você fazer uma festa, alguma coisa… — A Gilmara já falou isso, falou: “Olha, gente, vamos ficar aqui curtindo até dez horas, que eu não quero logo no primeiro dia que eu me mudei que alguém venha me falar alguma coisa e tal”. E aí quando deu oito horas da noite uma senhora bateu na porta da Gilmara…[efeito sonoro de batidas na porta] E essa senhora bateu na porta dela e já foi gritando: “Olha, esse aqui é um prédio residencial de família, aqui não é lugar para fazer festa assim e nã nã nã”, desceu a lenha, brigou… — Pra vocês terem uma ideia, eles não estavam nem ouvindo música porque não tinha ligado as coisas, não sabia que caixa que estava a caixinha de som… Eles estavam só conversando, comendo pizza e tomando cerveja. —


E aí a Gilmara ficou muito assustada, mas pensou: “Eu não vou e logo de cara me indispor com alguma vizinha, né?”, e aí pediu pra galera realmente ir embora. E todo mundo foi embora já pensando: “Puts, né? Gilmara tá morando no apartamento que tem uma vizinha péssima”. Ela com a mãe dela tinham preparado uns biscoitos… — Eu acho isso muito fofo… — E no domingo elas deixaram nas outras sete se apresentando: “Olha, meu nome é Gilmara, eu estou morando agora aqui no segundo andar, no apartamento 2A, o que vocês precisarem, eu estou aqui e nã nã nã”. — Eu acho super fofo isso quando os vizinhos se apresentam assim. — Ela foi bem recebida, teve uma vizinha que foi até a casa dela, bateu lá e pediu o telefone dela para colocar no grupo de WhatsApp do prédio, né? — Que o prédio resolvia as coisas pelo grupo de WhatsApp. — Ela já conhecia a síndica, que a síndica morava no térreo e estava tudo muito bom, assim, tirando esse comecinho, com essa vizinha que era vizinha de porta dela… — Então, são oito apartamentos, dois por andar… Dois no térreo, dois no primeiro, dois no segundo, dois no terceiro. —

O tempo foi passando, Gilmara foi levando a vida dela… Então, como ela trabalhava com publicidade e mais na parte de eventos, ela não tinha muito horário… Às vezes ela tinha que ir num evento mais chique e tal, ela ia com sapato baixo — mas ela levava um salto — e, quando ela voltava, ela estava com saltão e tal… E aí ela começou a perceber que as vizinhas pararam de falar “bom dia” pra ela. E os vizinhos homens eles estavam muito mais atentos a Gilmara. E a Gilmara não conseguia entender por que mudou assim… Era todo mundo muito simpático e, de repente, todo mundo deixou de ser simpático com ela. E aí Gilmara falou: “Bom, eu vou seguir minha vida, fazer minhas coisas”. Até que um dia a síndica mandou uma mensagem no WhatsApp particular pra Gilmara… Com muito cuidado, cheia de dedos, mas falando pra Gilmara que ali era um prédio familiar, que seria importante que Gilmara não levasse os clientes dela para o prédio. “Clientes? Que clientes?” Gilmara não tem clientes, ela trabalha para uma agência de publicidade, que aí sim a agência tem clientes, marcas, enfim… 


E aí ela respondeu pra síndica que ela não estava entendendo, e aí a síndica falou: “Olha, eu fiquei sabendo pela sua vizinha de porta que você faz programas no apartamento, que você é uma garota de programa. Eu não tenho nada contra, eu não vou… Não é disso que eu estou falando aqui, é só que a gente precisa ter cuidado, que a gente não sabe quem sobe e, de repente, a pessoa pode entrar em outros apartamentos, pode ser um bandido”. E aí a Gilmara tomou aquele choque, porque assim, de onde que a vizinha dela de porta tirou a ideia de que ela era uma garota de programa? Se nem com a vizinha de porta ela falava? Gilmara ligou chorando pra mãe, a mãe queria vir tirar satisfação com a vizinha, mas ia piorar tudo, né? A vizinha já uma senhora de sessenta e poucos anos, ela falou: “Bom, daqui a pouco a vizinha, do mesmo jeito que ela inventou que eu sou uma garota de programa, ela pode falar que eu bati nela, alguma coisa assim, então é melhor não”. E aí os pais da Gilmara ficaram muito bravos com isso e resolveram instalar uma câmera na porta da entrada da Gilmara. 


E aí a vizinha reclamou dessa câmera para síndica, mas aí a síndica falou: “Olha, quanto a isso eu não posso fazer nada, porque é até uma segurança para gente… Se cada um quiser colocar uma câmera na porta da sua casa, virada para o elevador, pode colocar… Não tem nada que proíba isso”, então a vizinha não pode falar nada sobre a câmera. E a câmera estava ali porque se a vizinha falasse: “Olha, dia tal ela entrou com cliente aqui” a Gilmara tinha como provar que era mentira, né? E ela se resguardou ali, mas ela viu que todo o prédio mudou com ela. Até que um dia, ela entrou no WhatsApp dela e ela tinha sido excluída do grupo… — Provavelmente o grupo estava falando dela. — O prédio era muito bom, a localização era ótima, Gilmara ia e voltava a pé do trabalho, ela pensou: “Eu posso sair daqui pra ir pra um apartamento pior, eu posso simplesmente ir tocando minha vida” e foi isso que Gilmara resolveu fazer… — Tocar sua vida… — Vizinha de porta dessa vizinha aí que falava mentiras sobre ela e o predinho todo aí meio que hostilizando de maneira silenciosa, sabe? 

Até que um dia, Gilmara está chegando e vê uma movimentação na frente da casa dela. Tinha SAMU, tinha polícia e aí ela foi subindo, a polícia meio que não queria deixar ela subir, ela falou: “Eu moro no segundo andar”, e aí ela ficou sabendo… O marido daquela senhora, que inclusive era um senhor que um dia a Gilmara estava passando para entrar na porta dela e esse idoso estava saindo ele fez assim [barulho com a boca], véio nojento… Este idoso ele tinha falecido, só que não tinha sido no apartamento… Ele tinha caído pela escada, e aí tinham socorrido ele para dentro do apartamento e ele tinha morrido. O SAMU veio e, como ele já estava morto, o SAMU não leva, e aí cabe a polícia chamar a perícia ou não. — Tem uma pessoa que me escreve, ela é perita criminal e ela me explicou uma vez que a perícia ela é provocada. A perícia não vai até o local de crime ou acidente se o delegado, se um promotor, sei lá, sei lá, se não for solicitada… — A Gilmara entrou na casa dela, passou um tempo e ela não viu mais a movimentação, mas ela sabia que o corpo ainda estava lá… E depois de algumas horas, veio um carro de cadáver e levou esse senhor para o IML.

No dia seguinte foi um carro da perícia ali para tirar umas fotos… — Talvez alguém do IML tenha pedido só pra ver de onde ele rolou? Não sei, não se sabe… — E, aparentemente, ele teve um piripaque e rolou escada… E até a polícia pediu imagens da câmera da Gilmara, só que ele caiu no lance de baixo, então não dava para ver nada. Essa senhora continuou morando lá, só que agora a gente vai entrar numa zona cinza… — Porque Gilmara ela resolveu se vingar… — Naquele prédio tinha uma senhora — no térreo onde morava a síndica e um outro apartamento —, essa senhora sempre cumprimentou a Gilmara… E aí uns quatro dias depois que tudo tinha acontecido, a Gilmara um dia saindo para trabalhar, essa senhora estava entrando com pão, elas se cumprimentaram e Gilmara falou pra: “Você viu?”, ela falou: “O que?”, “Você não viu que a polícia veio aí? Pediu imagem da minhas câmeras e tudo…”, e a senhora falou: “Não, tô sabendo, mas não é rotina? Não é de praxe?”. E ela falou: “Não, não… A desconfiança é que ela matou o marido…”. — Gente, a Gilmara espalhou um boato de que essa senhora que falava mal dela horrores, tinha matado o marido. —


E vocês sabem como é fofoca, né? Isso se espalhou além do predinho, pela rua toda, e as pessoas cochichavam, as pessoas comentavam… Esse boato seguiu sem ninguém falar o nome da Gilmara e, passado um mês que esse senhor tinha falecido, a idosa botou o apartamento dela para vender e foi morar com uma das filhas dela… — Ela não aguentou a pressão da fofoca do prédio. — A Gilmara foi alimentando essa fofoca todo dia ali, né? — Pela fofoca maldosa, ela foi de novo se aproximando das pessoas do predinho, ela foi colocada no grupo novamente e essa senhora já não estava mais no grupo… Esse apartamento foi vendido para um casal, um casal jovem, ótimo… Ela nunca mais teve problema de fofoca no prédio. Ela mostrou pra todo mundo onde ela trabalhava, deixou o cartãozinho com todo mundo, deu brindezinho… E muita gente falou pra ela: “Olha, nossa, eu achando que você era prostituta e tal, né?”, “Ah não, não tinha problema se fosse”, mas com certeza tinha, né? Porque todo mundo virou a cara pra ela, né?


Até hoje ela mora nesse prédio e ela não desmentiu… Ela nunca falou nada, assim… E a idosa seguiu a vida — porque a idosa não matou o cara, né? Ele caiu da escada, foi uma fatalidade —, mas ela inventou essa mentira pra rebater aí a mentira que a idosa criou sobre ela. E, assim, ela passou, sei lá, um ano… Essa fofoca toda, fofocaiada, de todo mundo de cara virada pra ela. E ela fez, com essa fofoca dela com que a idosa se mudasse daquele prédio… E aí eu fico naquelas, foi um choque para ela perder o marido assim, num acidente tão trágico e tal, ela devia estar abalada já, né? E aí essa fofoca de que ela matou o marido… Foi péssimo, né? — Ê, Gilmara… [risos] — A Gilmara escreveu para a gente justamente para perguntar isso, né? A gente acha que ela passou do limite? O que vocês acham? 

[trilha]

Assinante 1: Oi, gente, tudo bem? Aqui é a Caroline de São Paulo. E eu sei que a gente entrou numa zona cinza no final, mas, menina, não achei ruim… Sei que um erro não justifica o outro, mas parece que ficou todo mundo bem no final, né? Então, não sei, achei Gilmara esperta, enfim, não sei se faria a mesma coisa, mas também não julgo. Então é isso, gente, um abraço! 

Assinante 2: Oi, Não Inviabilizers, meu nome é Brígida, falo de Campo Grande, Mato Grosso do Sul. A Gilmara está de parabéns… Não quero nem saber se é zona cinza, zona azul ou zona preta, ela fez muito bem, porque essas véia fofoqueira que não tem o que fazer da vida, inventar fofoca dos outros, prejudicar os outros de graça, mereceu a fofoca… Mereceu. Foi merecido. Fiquei feliz. Gilmara, você fez muito bem, parabéns para você e ela que mude, que vá fazer fofoca em outra vizinhança. Beijos, fiquem bem.

[trilha]

Déia Freitas: Comentem lá no nosso grupo do Telegram. Sejam gentis com a Gilmara. Um beijo e eu volto em breve.

[vinheta] Quer a sua história contada aqui? Escreva para naoinviabilize@gmail.com. Picolé de Limão é mais um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]