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título: retorno
data de publicação: 20/11/2020
quadro: picolé de limão
hashtag: #retorno
personagens: marta e cléber

TRANSCRIÇÃO

[vinheta] Picolé de Limão, o refresco ácido do seu dia. [vinheta] 

Déia Freitas: Oi, gente… Voltei. Ai, hoje eu tinha que pular fila de histórias que eu tinha pra contar a história da Marta. A Marta me escreveu esses dias, ela precisa de um apoio nosso e, assim, a opinião de vocês, eu já tenho minha opinião formada, [risos] mas, né? Eu vou aí jogar pra vocês também darem a opinião pra ela e tal e… Vamos lá, historinha meio casca-grossa, vamos uma história aí.

[trilha]

A Marta e o Cléber eles tem um começo bem legal assim, bem bonito, eles se conheceram num cinema. Ela foi assistir um filme com uma amiga, mas aí amiga na hora não apareceu e ele foi assistir o filme com uma peguete e também na hora a peguete não apareceu, e eles sentaram perto e assistiram o filme e, sei lá, meio que se aproximaram e era uma comédia, eles riram e depois que acabou a sessão eles saíram meio que juntos do cinema, tomaram um café, se conheceram e foram se conhecendo, namoraram, noivaram e casaram. Então eu vou contar a história deles, a partir ali do casamento, né? Do começo do casamento. O Cléber sempre foi um cara muito amoroso e assim, muito dedicado ao casamento, a Marta, ele sempre foi um cara muito legal mesmo, e sempre presente, sempre companheiro, eles viajavam muito, ficavam muito juntos assim, um casamento bem legal que no primeiro ano foi bem incrível.

Aí depois do primeiro ano eles resolveram começar a tentar ter filho, então a Marta parou de tomar remédio e eles foram vendo no que dava, né? E passou um mês, dois, três, quatro, tranquilo, né? Aí chegou no quinto mês o Cléber já começou a ficar preocupado porque a Marta não engravidava, será que ele tinha problema porque quando ele era pequeno ele teve caxumba, [risos] e, ah, podia ser a caxumba, podia ser a caxumba… E ele ficou bem tenso, a partir dali do quinto mês que eles estavam tentando engravidar. E assim, o Cléber colocou na cabeça que o problema poderia ser dele, então ele sempre tinha aquela narrativa assim, do culpado, né? Sempre falava isso que a culpa era dele, que eles não iam conseguir ter filho e a Marta assim mais pé no chão, falava: “Não, se a gente não conseguir ter filho porque você tem algum problema, não tem problema, a gente pode, sei lá, adotar, ou se você também não quiser tudo bem”, e a coisa do ter filhos pra Marta nunca foi assim “Ah, um sonho”, né? 

Ela achava assim que seria importante no casamento porque ele queria muito, mas não era uma coisa assim “Ah, se não tiver filho não sei o que eu vou fazer”, então na cabeça dela, por causa dele, por causa do Cléber, ela teria um filho e só, pra meio que satisfazer o Cléber mesmo, porque por ela tanto faz ter filho ou não ter filho, não era a cola do casamento dela, ela acha que tinha coisas mais importantes. E assim se passou ali um ano, eles tentando e o Cléber sempre falando que a culpa era dele, até que a Marta tomou iniciativa dos dois irem atrás de um médico pra fazer todos os exames. E assim, a Marta sempre foi à ginecologista dela e regularmente, né? E nunca apresentou nenhum problema assim grave, de que “Ah, não pode ter filho”. 

E aí eles foram num médico lá, desses que auxiliam na fertilidade e o médico pediu vários exames para os dois, e ambos fizeram os exames. Os exames do Cléber todos normais, os exames da Marta deram uma alteração lá no ovário, sei lá o quê, que assim, se ela fizesse um pequeno tratamento eles poderiam tentar que, provavelmente, ela engravidaria, acontece que a partir do momento que o Cléber ficou sabendo que o problema não era nele, mesmo sendo um problema leve na Marta, o cara mudou. Primeiro que ele parou de ser o cara romântico e companheiro e passou a ter uma atitude assim meio agressiva e meio que culpando a Marta por primeiro não se cuidar, ele falava que como que ela ia na ginecologista a cada seis meses e nunca ficou sabendo que ela tinha problema? Que então ela sabia que tinha problema e deixou ele um ano falando que a culpa era dele. Sendo que ela nem sabia, nem era uma coisa assim, sei lá, enfim, ela não sabia, essa culpa que ele estava colocando nela ela não tinha. 

E aí ela falou: “Não, Cléber, tudo bem, eu trato isso aí que o médico falou e a gente continua tentando”, só que o cara estava sempre jogando isso na cara dela. Daí a Marta foi lá e tratou a coisa que ela tinha lá no ovário e tudo bem, voltaram a tentar, o médico falou: “Agora, né, tranquilo”, tentaram por mais cinco meses e nada. E agora o Cléber sempre falando isso, chegou até a falar um dia pra Marta que ela era oca por dentro. — Então assim, pra mim já não dá, né? Pra mim já ódio de Cléber, mas enfim, não é o meu marido, não sou eu que tô ali todo dia, né? Então ela ainda nutre sentimentos por ele e foi meio que compreendendo aí essa revolta dele, coisa que enfim… Ai, ai. — E aí ele falava isso, que ela era oca, que ela não se esforçava — Não se esforçava, gente? Não se esforçava pra engravidar, sabe? —

Até que o médico sugeriu então que eles fizessem uma fertilização — E assim, eu quero destacar uma coisa, durante um ano Cléber ficou choramingando e falando que o problema era nele e a Marta falando que: “Não, tudo bem”, dando aquela força e falando: “Não, que se for o problema em você e a gente não tiver filho, tudo bem, nã nã nã”, agora, a partir do momento que o cara soube que ele estava tranquilão, que o problema era dela, ele não teve a mesma atitude, né? Aí o cara virou o terror. Quer dizer, enquanto era nele “Ah, tudo bem então não ter filho, tudo bem se não der certo”, agora que a coisa era nela, quer dizer, ela tinha que se esforçar, ela era oca por dentro, ela não era mulher suficiente, era esse tipo de coisa que ele falava pra ela.

Então, isso é um detalhe importante… — Então o médico sugeriu fertilização, só que assim, Marta e Cléber um casal normal, classe trabalhadora e uma fertilização custa caro pra caramba. E voltando um pouquinho, a Marta, a duras penas e sozinha batalhando conseguiu comprar um apartamentinho dela no programa “Minha Casa, Minha Vida”, quando ela casou eles não foram morar lá, então o quê que a Marta fez? A Marta alugou, mas era um apartamento dela, só dela, que ela comprou antes do casamento, era um bem dela. 

E eles foram morar numa casa que era da mãe do Cléber, que a mãe do Cléber tinha umas casas lá pra alugar, provavelmente essa casa ia ficar mesmo já de herança para o Cléber, sei lá, alguma coisa assim, e lá que eles foram morar. E a Marta muito pé no chão mesmo, falou: “Não, então eu alugo meu apartamento, né? E com essa renda a gente, sei lá, vai vivendo também aí, usando esse dinheiro, enfim”, mas o apartamentinho dela ficou lá. — Que eu acho excelente… — Daí pra bancar a fertilização, o quê que o bonito queria? O bonito do Cléber queria que a Marta vendesse o único bem que ela conseguiu adquirir na vida, sozinha, batalhando, pra financiar as tentativas, porque cada tentativa lá tinha um custo e era muito difícil dar certo na primeira e ele queria assim, por ele, já estava tudo certo que ela venderia o apartamento. Só que Marta graças a Deus tinha muito o pé no chão e disse o quê? “Não”. 

Daí pra frente o casamento de Marta e Cléber foi ladeira abaixo, porque aí o Cléber culpava mesmo a Marta que ela não podia ter filhos e como era ela que não podia ter filhos, quem tinha que vender o bem e ir atrás do dinheiro pra fazer a fertilização era ela, que era responsabilidade dela, ela tinha que se virar. E a Marta bateu o pé e falou: “O meu apartamento eu não vendo”, e aí a coisa foi que foi que foi, até que eles se separaram. Tudo bem, separou, nossa, alívio. Marta largou o embuste do Cléber e foi viver a vida dela, voltou para o apartamentinho pago com o suor dela que ela comprou sozinha que era dela, que nem entrou em partilha de divórcio, nada, porque era um bem que era só dela, que ela adquiriu antes do casamento e tranquilo. 

E eles se divorciaram mesmo, e aí, galera, passou ali um tempo de uns cinco anos, e Marta levou a vida dela, teve outros namorados, nunca mais quis casar, tipo morar na mesma casa com um cara, então ela teve relacionamentos mais sérios, mas cada um na sua casa. — Que é exatamente como eu penso hoje, [riso] que eu acho que funciona melhor pra gente da minha idade, idade da Marta, a Marta tá agora com trinta e nove. — E isso pelo resto da vida, trabalha, tem o apartamento dela, as coisas dela, beleza, vida que segue, né? Até que, quem aparece novamente na vida de Marta? Quem, quem, quem? Cléber. Gente, o Cléber surgiu novamente na vida de Marta, e assim… — As ideias de Cléber… — Nesses cinco anos ele teve um outro relacionamento e desse relacionamento em cinco anos, o Cléber teve dois filhos, Cléber teve dois filhos, com a mesma mulher, né? Só que Cléber não tem um bom relacionamento com esta mulher que é a mãe dos filhos dele e agora ele quer o quê? Voltar com Marta. 

Sendo que Cléber, às vezes, nem a pensão paga direito. — Olha, não vou nem falar nada porque se tem uma coisa que eu odeio é homem que não paga pensão, ou que dá trabalho pra pagar pensão, sabe? Pra mim já é nota de corte assim na lata. — Só que agora o Cléber voltou todo romântico, porque na cabeça de Cléber é: o que atrapalhava era que ele não tinha filhos, né? Agora ele tem dois, ele viu que não é fácil ter filhos e falou até pra Marta que se soubesse que seria assim, não teria tido filhos. — Quer dizer, olha que cara sem coração, ele não gosta nem dos próprios filhos? — E a Marta falou que ele tem assim, um probleminha pra pagar pensão e ele tá dando em cima dela e, assim, ela também tá fraquejando, gente — Ô, Marta. —

Gente, e não é pensão pra Marta, não, porque eles divorciaram e cada um seguiu sua vida, não tinha filhos, não tinha pensão, nada. Ele reclama de pagar pensão dos filhos que ele tanto queria, “Porque, nossa, eu preciso de filhos”, nem a pensão dos moleques o cara quer pagar, entendeu? E agora a Marta tá balançada porque acha que talvez, sei lá, eles ainda têm algum, sei lá, resquício de sentimento do passado, alguma coisa pra resolver. — Gente, pra mim tá tudo resolvido, [risos] mas eu não sou a Marta, né? — Então era isso assim, ela me escreveu meio que naquela “Ai, socorro, Andréia, eu tô fraquejando com Cléber”, porque ele voltou a ser aquele cara romântico do começo do casamento, quando ele não sabia que quem tinha problema pra engravidar era a Marta, saca? E o discurso do Cléber é assim: “Agora que a gente já tá mais maduro e não tem filhos”, eu ainda falei pra Marta: “Ele falou isso?”, porque assim, a Marta não tem filhos, mas ele tem dois. 

Então ele falou isso, ele falou: “Agora que a gente está mais maduro e não tem filhos, a gente pode viajar mais, pode curtir mais”, quer dizer, que hora que ele vai ficar com as crianças dele? Quer dizer, já largou, né? Já não quer pagar pensão para as crianças direito e agora já largou na mão lá da moça que teve os dois filhos com ele? Marta, olha onde você vai, sabe, se meter de novo, já largou disso. Então assim, meu conselho pra Marta foi: procure terapia e sei lá, foge desse cara. É a minha opinião, né? Mas pode ser que vocês tenham outras. Então assim, sejam gentis com a Marta porque ela tá lá no nosso grupo, e é isso gente. E um beijo todo mundo, volto daqui a pouco, talvez.

[vinheta] Quer a sua história contada aqui? Escreva para naoinviabilize@gmail.com. Picolé de Limão é mais um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]
Dourado

Dourado é pai, abandonou a teologia e a administração para seguir a carreira em TI e sua paixão por fotografia. Gosta de cinema, séries, música e odeia whatsapp, sempre usou Telegram.