Skip to main content

título: agasalho
data de publicação: 24/06/2024
quadro: picolé de limão
hashtag: #agasalho
personagens: priscila e tia margarete

TRANSCRIÇÃO

Este episódio possui conteúdo sensível e deve ser ouvido com cautela. 

[vinheta] Picolé de Limão, o refresco ácido do seu dia. [vinheta]

Déia Freitas: Oi, gente… Cheguei. Cheguei para mais um Picolé de Limão. — E hoje eu não tô sozinha, meu publiii… — [efeito sonoro de crianças contentes] Quem está aqui comigo hoje é a nossa queridíssima EBAC, a Escola Britânica de Artes Criativas e Tecnologia. A EBAC está com uma super promoção que vai até o dia 28 de junho e são até 60% de desconto em todos os seus cursos. Esse é o momento perfeito para você aproveitar o meio do ano para dar aquela arrumada aí na sua vida. Vamos estudar? — Vamos começar a estudar? Ir atrás de uma outra carreira, se você quiser, ou só complementar aí com os cursos que você já tem, enfim, vamos nessa. — 

São mais de 95 mil alunos e mais de 150 opções de cursos para você investir no seu futuro — inclusive, tem um curso de roteiro na EBAC —, para você tirar os seus planos da gaveta e começar uma nova carreira. Essa promoção vai até o dia 28 e, como se não bastasse esse super desconto de 60% que a EBAC está oferecendo, você ainda tem — 0lha só — comprando um curso, você ganha outro curso de forma gratuita. — Dois por um. — Você pagará apenas pelo curso de maior valor, consulte aí as condições no site da EBAC. — Então lê lá direitinho e vai fazer aí a sua inscrição. — Eu vou deixar certinho aqui na descrição do episódio o cupom e o link, clica no nosso link, tá? ebaconline.com.br. 

E hoje a história contem aí gatilhos, mas eu peço que sim, que vocês acompanhem essa história, porque é uma questão também de prestação de serviço, então eu acho importante que vocês ouçam essa história. Eu não vou tornar essa história gráfica e que vocês ouçam essa história e também espalhem essa história e coloquem as crianças também para escutar essa história. Hoje eu vou contar para vocês a história da Priscila e de sua Tia Margarete. Então vamos lá, vamos de história. 

[trilha]

A Priscila sempre foi uma criança muito tranquila, filha única, os pais sempre deram todo suporte para ela, ela sempre teve tudo o que precisou ali, falando de uma família da classe C, né? — Então ela sempre estudou em escola pública, mas tinha todo o apoio e toda base aí, tanto emocional quanto o suporte financeiro, enfim, tudo que uma criança precisa para crescer feliz e saudável. — A família de Priscila sempre foi muito unida — por exemplo, a avó da Priscila por parte de pai, morreu, a avó da Priscila por parte de mãe, morando num estado muito mais longe, então não tinha contato, mas enfim, a família dava um jeito de se reunir sempre que tinha alguma festa, alguma coisa importante —, uns seis meses antes, Margarete, tia de Priscila, tinha flagrado seu marido com outra mulher. 


Margarete com um filho na faculdade e uma filha casada, pediu o divórcio, o marido também já tinha a intenção de viver com a amante, então a casa ficou para Margarete. Os filhos não moravam mais com ela, então ela decidiu vender aquela casa, passar metade do dinheiro para dois filhos e, com a metade dela, ela comprou um apartamentinho de dois quartos, estava ótimo para ela. Isso tudo aconteceu em seis meses, foi uma loucura, foi um turbilhão, mas Margarete queria sim participar da festa que teria, que seria uma festa de bodas de casamento que todo ano os pais da Priscila faziam. — Comemoravam desde a bodas de papel, bodas de algodão, sei lá, essas bodas aí que tem… — Todo ano eles comemoravam. Eles estavam comemorando ali 13 anos de casamento e Priscila ali com os seus 10 para 11 anos. — Depois daquela festa, passado dois meses, Priscila completaria 11 anos. — Eles não faziam uma festa chique, era sempre um churrasco, uma festa muito animada, mas não era nada formal… Era uma festa assim…


Todo mundo ia cedo lá pra casa da Priscila e ficava o dia todo lá no churrasco — com música, todo mundo conversando, enfim, essa era aí a festa —, Margarete morando, por exemplo… — Eu vou dar um exemplo aqui da minha cidade: Eu moro em Santo André e digamos que Margarete morava no Capão Redondo. Então, assim, dá o quê? Duas horas e meia de condução daqui até o Capão Redondo. É longe? É, mas dá para você ir, né? — Ela não ia frequentemente na casa da Priscila, mas umas quatro, cinco vezes por ano, todo mundo se reunia na casa de um parente ou outro e todos os parentes iam. — Então, era mais ou menos essa distância e essa convivência pessoal aí que essas pessoas tinham, essa família. Sendo Margarete ali tia de Priscila por parte de pai… — Aquele baque do final de casamento de Margarete já tinha passado, mas ela ainda estava um pouco fragilizada. Então, depois dessa festa dos pais de Priscila, Margarete que agora ela tinha dividido metade da casa que o marido abriu mão que ficou para os filhos, ela deu o dinheiro para a filha e para o filho, então o filho deu entrada num apartamento e foi viver a vida dele, a filha já era casada, pegou esse dinheiro e sabe lá o que ela fez com esse dinheiro. 

Margarete não tinha pets, ela não tinha nada, ela tinha um apartamento menor que ela que ela não precisava voltar tão já. Então ela decidiu ali — em comum acordo com os pais, óbvio — da Priscila em ficar uns dias, talvez um mês ali naquela cidade, que era perto, mas era uma cidade que ela não ia tanto, então ela ia poder fazer uns passeios, ela ia poder dar uma força ali na casa também, enfim, ela ia ficar por ali. E começou a dar super certo, porque nessa ela começou a levar a Priscila para a escola, então a Priscila estava ali para fazer 11 anos — mas como ela fazia 11 anos e era quase perto do final do ano —, ela estava ainda no ensino fundamental. Ela levava na escola, buscava na escola… — A pé. — Não era tão longe, elas iam e voltavam conversando e assim o tempo foi passando aí… Uma, duas, três semanas… Na terceira semana algo aconteceu… 

E até aqui eu quero que vocês prestem atenção que a gente escutou uma história de uma família onde eu, que estou de fora, por exemplo, ou que sou uma vizinha, ou eu que sou uma amiga, enfim, tenho como observar tudo o que eu disse aqui. Então que a tia ficou um pouco mais na casa, que a tia se separou, que teve a festa…  Todas essas informações são informações que a gente consegue… Se você é do convívio da família, você consegue acompanhar, né? Então, isso é o que geralmente a gente vê de todas as famílias, né? Então, por exemplo, aqui os meus vizinhos eles veem os meus cachorros, eles podem perceber o meu convívio com a Janaína, mas o que passa aqui dentro, entre mim e a Janaína, só nós duas sabemos ou alguma amiga mais íntima, um parente mais íntimo, que a gente de acesso.  É assim que acontece em todas as relações, então até aqui foi assim que a gente viu. E agora, a partir daqui, deste momento de três semanas de Margarete na casa de Priscila, a gente vai escutar duas histórias: A história da Margarete e a história da Priscila. Com três semanas que Margarete estava na casa, Margarete levou a Priscila para a escola e voltou rapidamente pra casa, porque ali ela ia receber uma visita. — Quem era essa visita? – 

Esta visita era o Conselho Tutelar. — Aqui a gente está falando de uma história onde você não percebia nada… — O Conselho Tutelar chegou naquela casa onde estava Margarete e a sua cunhada. — A esposa do seu irmão, lembrando aqui que Margarete é irmã do pai de Priscila. —Chegou o Conselho Tutelar e, junto com o Conselho Tutelar, chegou ali uma intimação para que o pai comparecesse na delegacia. — Um choque para a mãe de Priscila que estava junto com Margarete. — O que tinha acontecido? Agora a gente tem que voltar lá na festa… [efeito sonoro de fita rebobinando] — E é por isso que eu acho que essa história é tão importante. — Margarete chegou numa festa familiar que ela ia três, quatro vezes por ano, sempre tinha festa. — Eles sempre se reuniam e, como eu disse, Priscila faz aniversário perto do final do ano. Então digamos que aquela festa ali estava acontecendo em outubro. — Outubro no Brasil já é muito calor e estava um dia de muito calor… Mesmo sendo uma pré—adolescente, Priscila sempre foi uma garota muito alegre. — Muito sem essas questões de revolta da adolescente, ela sempre foi uma garota muito de boa. —Quando Margarete viu Priscila, Priscila estava quieta e ela estava de agasalho. — Ela estava de calça e de blusa de moletom. — Um calor insuportável… 


Margarete achou estranho, como que uma criança de 10 anos, quase 11 anos, e que no ano anterior, no Natal anterior, ela ganhou um kitzinho de maquiagem para criança e ela amava aquele kitzinho. Sempre que ela via fotos da Priscila no grupo da família, a Priscila estava toda arrumadinha de estrelinhas no rosto, de tiarinha na cabeça e aquela Priscila que ela estava vendo ali — nessa mudança de 10 para 11 anos — não fazia muito sentido pra tia Margarete. — E aqui é outra coisa que a gente tem que dizer: Margarete é uma mulher muito simples. Então, uma pessoa que estudou até antes de ter fundamental, até a quarta série, não é uma pessoa de muita instrução, mas é uma mulher muito observadora. — Margarete notou que Priscila estava estranha, não parecia a Priscila… E a festa toda ela ficou observando a Priscila. — Então, naquela festa de bodas de 13 anos ali do casal, ela passou a festa toda observando a Priscila e o que ela percebeu? Que podia ser coisa da cabeça dela… Lembrando que ela vinha de uma recém separação, ela mesma se questiono, mas o que ela reparou? — Ela reparou que a Priscila fugia do próprio pai e reparou uns olhares do próprio irmão — do seu irmão —, do próprio pai para a filha. 


E, na hora o coração dela disparou, mas como Margarete me disse: “Andréia, tem coisa que a gente olha e a gente sabe, tinha alguma coisa ali”. E, naquele momento, ela deu a desculpa pra família de ficar naquela casa e dormir no quarto da Priscila pra entender o que estava acontecendo. Margarete começou a levar a Priscila na escola e, durante o caminho, ela ia conversando com a Priscila. — Por que o que não fazia sentido? Quando ela levava a Priscila para a escola, a Priscila ia de roupa de calor, mas quando ela chegava em casa, ela só ficava de agasalho. — E aí a Margarete foi perguntando, a menina não falava, falava que não era nada, até que ela deu uma pressionada e Priscila na época — de 10 para 11 anos, hoje Priscila tem mais de 20 anos — começou a chorar. E o que Priscila relatou para a tia numa das idas à escola? Que um dia ela estava tomando banho e o seu pai entrou no banheiro, de maneira repentina… Então, naquele ano que elas estavam ainda, isso aconteceu naquele ano, antes disso Priscila nunca tinha reparado nada sobre o pai. 


Um banheiro com box transparente e ele permaneceu olhando para a Priscila tomando banho de uma maneira que a criança ficou incomodada e ela falou pra tia Margarete: “Tia, ali eu sabia que não era certo… Alguma coisa me deixou com medo”. E, assim, ela não usou a palavra “desconfortável”, mas assim, sem saber como reagir… E a reação da Priscila — uma criança de 10 anos — foi pegar a toalha e interromper o banho ainda com shampoo na cabeça. — Numa situação que estava ela e o pai e a mãe estava na cozinha fazendo alguma coisa. — Nisso ela gritou: “Mãe, mãe, mãe” e chamou a mãe para ajudar a lavar a parte de trás do cabelo e, nisso, o pai saiu. Só que a partir daí, a Priscila não se sentiu mais à vontade de ficar de roupa curta na sua própria casa. E o pai entrou mais algumas vezes no banheiro e ele ficava realmente parado, observando a filha com uma cara estranha e muitas vezes tocando a sua genitália por cima da roupa. Priscila passou a tomar banho de porta trancada e passou a colocar uma pequena comodazinha — um móvelzinho do quarto dela — na porta do quarto. E era por isso que ela estava usando o agasalho… Até esse ponto eram só olhares. — Esses olhares eram os olhares que Margarete também percebeu nessa festa onde estava toda a família, onde estavam amigos, onde estava todo mundo. —


E Margarete não sabia o que fazer com essa informação… Quando a Priscila explicou para ela que ela tinha aprendido na escola com a professora de Educação Física que quando você se sentir mal com o olhar de adulto, você deve se proteger. Você deve contar para outro adulto e você deve sim se considerar em perigo. — Uma professora de educação física dela que estava ali conversando com meninas e meninos sobre toques inadequados que você pode ter de uma pessoa, um parente, um amigo, um estranho… E aí muita gente é contra educação sexual nas escolas e isso que eu estou falando para vocês, que a professora de educação física fez numa sentada com os alunos ali no meio de uma quadra, é educação sexual. Isso que é educação sexual. Educação sexual não é ensinar o seu filho a fazer sexo, mas é ensinar ao seu filho como identificar um abuso, como ser um adulto saudável e feliz sexualmente. Adulto, tá? A gente não está falando aqui de transformar crianças em pessoas sexuais. Então, a importância dessa conversa da professora de educação física com a Priscila fez com que a Priscila identificasse um olhar de perigo que foi realmente escalando. Porque no final ali, antes da Priscila passar a tranca a porta do banheiro e a gente está falando de uma criança de dez anos, tá? O pai começou a entrar no banheiro para vê-la tomar banho enquanto acariciava a própria genitália por cima da roupa. Onde isso ia parar? Não sabemos. Pai biológico, tá? Que sempre criou a Priscila, sempre viveu na mesma casa, que Priscila nunca tinha reparado nada antes. —


Margarete, uma pessoa muito simples, não sabia o que fazer com esse tanto de informação e isso foi no caminho para a escola… E ela chegou lá e foi falar com a diretora da escola — enquanto Priscila foi para a aula, ela foi falar com a diretora — e foi a diretora que acionou o Conselho Tutelar. — Agora, veja, na escola provavelmente pode ser que esse comportamento, essa mudança de comportamento de Priscila fosse sentida bem mais para frente, mas naquele momento, é aquilo que eu falei pra vocês: Pra escola ela ia com a roupinha comum, ela passava sua, colocava suas estrelinhas… Quando eu falei aqui: “maquiagem infantil” não é uma criança se maquiar, mas sabe um glitterzinho que você ganha? Umas estrelinhas, uns coraçõezinhos? Coisa de criança, gente… Ela fazia isso. Mas quando ela voltava para casa, ela tirava tudo e vestia um agasalho. Uma criança de dez anos estava tentando proteger o seu próprio corpo de um assédio do seu próprio pai. — A diretora acionou o Conselho Tutelar e o Conselho Tutelar foi até aquela casa e foi um choque para a mãe da Priscila — porque ela realmente, gente, não tinha reparado, ela não tinha, nunca passou pela cabeça dela que o seu marido poderia fazer uma coisa dessa —, depois que o Conselho Tutelar saiu, aconteceu uma briga entre Margarete e sua cunhada — mãe de Priscila — porque a mãe não acreditou e achou que a Margarete estava ali para querer destruir aquela família.


Margarete não arredou o pé e falou: “Olha, se eu sair daqui eu vou levar a Priscila comigo” — porque, né? ela ia ser expulsa da casa — e aí elas esperaram o marido chegar, porque ele recebeu a intimação, mas ele estava no trabalho e ele ficou em choque… Foi prestar um depoimento e, até então, Priscila tinha sido ouvida lá na escola pela coordenadora da escola. — Então, aconteceu uma sequência de coisas e estava todo mundo muito assustado. Digo para vocês, quando eu falo que a gente não precisa de muito para se posicionar e agir, né? Então a gente está falando aqui realmente de uma pessoa muito simples mesmo. — Só que Margarete falou: “Daqui eu não vou sair até que isso se resolva”. E na cabeça de Margarete como se resolveria essa situação? Era a mãe da Priscila pedindo o divórcio do irmão da Margarete, só que isso não estava acontecendo ali. — Quando você tem uma criança numa casa e um potencial abusador ou um abusador na casa, quem tem que ir embora é quem está cometendo o abuso. Você tem que proteger a criança. —

Margarete resolveu tomar duas decisões ali: Pedir a guarda da Priscila — que nesse ponto da história tinha completado 11 anos. — e contar para a família o que estava acontecendo. — E aí a Margarete me diz que ela resolveu contar porque na família tinham outras crianças… E era o irmão dela, gente, o irmão dela de sangue… Ela queria avisar todo mundo. — Ela falou: “Andréia, não sei se eu fiz certo ou se eu fiz errado, mas no final eu acho que eu fiz certo porque uma das minhas sobrinhas tinha parado de ir na casa da Priscila, da priminha Priscila, justamente por que ela estava incomodada… Ela não conseguia entender, mas ela estava incomodada com os olhares do tio”. Veja… E foi uma briga na família, porque sempre tem aqueles que falam: “Não, magina, nunca”, uns que ficam contra criança, uns que ficam a favor da criança e nisso a juíza chamou a Priscila para ser ouvida e a Priscila disse que sim, que ela queria morar com a sua tia. 


E a mãe e o pai abriram mão da guarda da Priscila, uma garota de 11 anos, para que ela fosse morar com a tia. — Não foi que abriu mão, tipo, deu a guarda para a tia, enfim… Até que a Priscila fosse maior de idade, quem responderia ali também pela Priscila seria a tia e ela ia morar com a tia. Então, isso resultou numa transferência de escola, um monte de coisa, mas a Priscila ela mesma me disse que foi a melhor coisa que aconteceu. — E aí vocês me perguntam: Aconteceu algum processo, alguma coisa com o pai? Não, porque era uma criança dizendo de olhares que o pai diz que não aconteceu. E aí, assim, juridicamente ou, sei lá, criminalmente não tinha o que ser feito ali. Não tinham o que ser feito… Ainda bem que teve alguém naquela festa, uma festa de umas 40 pessoas, teve uma pessoa que olhou para a Priscila, que observou que ela estava diferente e que foi investigar, não saiu acusando o próprio irmão também… Foi investigar o que estava acontecendo. Porque ela também estava fragilizada, tanto que uma parte da família achava que ela tinha feito isso de propósito para acabar com o casamento do irmão por inveja, o que não faz nem sentido, né? 


E a gente tem aqui o relato, para mim e para todas as pessoas da família, da própria Priscila, de que ela estava se sentindo mal com os olhares do pai, que o pai sim, tinha entrado no banheiro e tinha se acariciado enquanto ela tomava banho. Palavras da criança, a gente tem que acreditar na criança também. E que a Priscila estava ali começando a mudar de comportamento. Coisa sutil, mas estava. Então, a gente tem que ficar muito atento, gente, observar muito o comportamento das nossas crianças. E aí ela foi morar com a tia e a mãe sempre vinha visitar… O pai ela não queria visitas do pai. E, hoje em dia, ela mora ainda com a Margarete — ela já tem mais de 20 anos— e resolveu cortar relações com o pai e com a mãe, porque a mãe permaneceu casada com o pai e segue casada até hoje e segue comemorando anualmente aí as suas bodas. Parte da família não vai mais, ficou do lado da Priscila, mas parte da família acha que Priscila, uma criança de dez anos, exagerou, viu coisa e continua indo na festa. 


Então, essa é uma história que a gente viu o lado da Priscila, porque quem me contou essa parte do chuveiro, foi tudo a própria Priscila… E vemos aqui o lado da Margarete. E o lado do começo da história de todo mundo que estava na festa, né? Que só uma pessoa reparou nessa criança. Então eu acho que essa história é uma história muito importante, vocês que são pais, que são mães e que são tutores de crianças, eu acho que sim, precisa explicar para a criança que quando ela ficar desconfortável com um toque, com um olhar de um adulto, ela deve contar para alguém ou para várias pessoas. Talvez você conte para uma pessoa só e essa pessoa não faça nada, então conta para sua professora, conta para a mamãe do seu amigo, conta pra sua vizinha, conta… Ainda bem que esse assédio do pai e esse abuso não se transformou em algo pior, mas já foi muito traumático para Priscila. 

A Margarete colocou a Priscila na terapia com ajuda da escola e a escola também foi importante, esse suporte… Essa professora de educação física maravilhosa. Então, eu acho que cabe também ao professor, a professora ter essa conversa com seus alunos ali com nove, dez anos. Eu sei que tem pais que: “Ah não, o meu filho… Não aceito”, mas pelo menos essa conversa de que toques inadequados, olhares inadequados, as crianças têm que conversar com adultos em quem elas confiem e, de preferência, com mais de um adulto. Eu acho importante que esse toque seja dado também na escola. Eu não sei, em termos curriculares, se isso pode, se isso não pode. Na minha época era outra época, a gente tinha educação sexual, então eu sabia tudo, eu sabia como era o útero, como era o órgão genital masculino, tudo isso em desenhos e o que acontecia… E também aprendia isso de quando a gente se sentir mal… A minha professora foi a professora Ivonete e ela era uma professora muito brava, mas nessa hora… Era professora de educação física também, nessa hora ela ficava muito acolhedora e ela explicava muito bem. 


E isso foi muito importante na minha infância e eu acho o papel do professor espetacular, eu acho que sim, tem como a gente introduzir certos assuntos até de maneira mais sutil, porque a gente sabe que tem pais e mães aí que não aceitam. Então, esse tipo de orientação, gente, é para proteger as crianças, então eu achei importante no dia de hoje, nesses tempos que estamos vivendo, trazer essa história aqui para vocês… Que a maioria dos casos de abuso infantil acontecem dentro de casa ou acontecem com pessoas que são do convívio daquela criança, da própria família, do círculo de amigos, enfim… Então a gente tem que estar atento e vigilante, eu agradeço demais a Priscila e a Margarete por ter mandado essa história… 

Essa história já está comigo há bastante tempo e eu acho que agora, eu conversei com a Priscila, ela está mais madura… Eu acho que quando eu conversei com ela a primeira vez, eu senti, era muito chorosa, eu falei: “Não vou contar agora” e agora eu achei ela muito mais fortalecida e achei importante então trazer essa história aqui para vocês, porque eu acho que é minha obrigação também usar minha voz no meu espaço para que a gente proteja as nossas crianças sempre. O que vocês acham?

[trilha] 

Assinante 1: Oi, Não Inviabilizers, meu nome é Brígida, falo de Campo Grande, Mato Grosso do Sul. Essa história “Agasalho” é uma história bem difícil de ouvir, né? Porque sempre machuca a gente pensar que um pai, independente se é biológico, se é adotivo, criou essa criança desde que nasceu e é capaz desse tipo de comportamento. Gente, é uma coisa muito difícil de a gente ouvir, mas assim, eu quero dar foco na Margarete. Tia maravilhosa, teve coragem de denunciar o próprio irmão e proteger a criança, que é o que nós sempre devemos fazer, né? Não importa se é nosso sobrinho, se é nosso neto, se são nossos filhos, se é um afilhado, enfim… Eu quero dar os parabéns a Margarete e fico feliz que você e sua sobrinha estão bem. Parabéns para as duas pela coragem, viu? Beijos, fiquem bem. 

Assinante 2: Oi, Déia, oi, Não Inviabilizers, eu sou a Any Oliveira, eu falo aqui do Cariri cearense. Primeiro, dizer que eu me surpreendi imensamente o quanto essa história se assemelhou com o que eu vivi também, né? Só que no meu caso, foi com um vizinho, mas uma similaridade imensa. [riso] E eu quero dizer, Priscila, que a sua dor é minha dor, infelizmente, assim como nós, milhares de mulheres aí passam por situações semelhantes a essa, né? Todo o meu acolhimento, todo o meu abraço, que você possa se curar a medida do possível sempre, viu? Sempre, viu? Você não está sozinha. E também fui acolhida por uma professora na minha época, né? Hoje ela é minha colega de trabalho. Eu queria deixar aqui a dica do jogo e livro: “Não me toca, ser boboca”, que ele fala, ensina de forma lúdica para as crianças a como se protegerem de tal abuso. Um abraço e um beijo em todos vocês. Parabéns. 

[trilha] 

Déia Freitas: História pesadíssima, né? E eu quero agradecer aqui os nossos patrocinadores todos, inclusive a EBAC, porque é com a ajuda do patrocínio, da publicidade que a gente consegue colocar esse podcast no ar e trazer para vocês histórias e prestar serviços. Então, é muito importante esse apoio das empresas e dessa renda que a publicidade gera para a gente. E, falando nisso, eu quero agradecer aqui a EBAC e complementar aqui o nosso apoio de hoje, dizendo: Se você quer aprender aí novas habilidades profissionais, investir no seu futuro, começar uma nova carreira ou mesmo tirar aquele plano da gaveta, você tem agora a oportunidade perfeita. Até o dia 28 de junho a EBAC está com uma super promoção de até 60% de desconto em todos os seus cursos e, comprando um curso, você ganha outro de forma gratuita. 

Consulte aí as condições lá no site da EBAC, você paga apenas pelo curso de maior valor dos dois escolhidos e ainda ganha um desconto de R$200 com o nosso cupom. A descrição aqui do episódio tem o nosso cupom — ele é cumulativo com os descontos, então você usa o cupom e tem ainda o seu desconto aí tranquilamente —, faça parte da EBAC e mude aí a sua vida: ebaconline.com.br. Valeu, EBAC, um beijo, gente, e eu volto em breve. 

[vinheta] Quer a sua história contada aqui? Escreva para naoinviabilize@gmail.com. Picolé de Limão é mais um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]
Dourado

Dourado é pai, abandonou a teologia e a administração para seguir a carreira em TI e sua paixão por fotografia. Gosta de cinema, séries, música e odeia whatsapp, sempre usou Telegram.