Skip to main content

título: fica
data de publicação: 06/01/2023
quadro: férias na zona morta
hashtag: #fica
personagens: evandro e dona mirtes

TRANSCRIÇÃO

[vinheta] Especial de Férias Não Inviabilize. [vinheta]

Déia Freitas: Oi, gente… Cheguei. Cheguei pra mais uma história do nosso especial de Férias — Férias na Zona Morta. E hoje eu vou contar pra vocês a história do Evandro. Então vamos lá, vamos de história.


[trilha]


O Evandro tinha 16 anos e todo ano a família dele nas férias ali de janeiro ia para a praia.  Ia ali a mãe do Evandro, o pai do Evandro, um tio, alguns primos, a família toda… Só ficava na casa da avó, dona Mirtes. Ficava pra cuidar dos cachorros, alimentar os cachorros e não deixar a casa sozinha. Ela não nunca ia e não adiantava forçar que dona Mirtes não ia pra praia nunca. O tempo foi passando e lá, quando o Evandro tinha por volta seus 12 anos, infelizmente dona Mirtes veio a falecer. Foi um choque… Todo mundo ficou chateado e tal e, por alguns anos, eles não foram para a praia. Primeiro que não tinha ninguém pra ficar ali com os cachorros, eles não levavam os cachorros junto para a praia. — Se possível, gente, sempre leva, né? É legal levar aí o seu cachorrinho junto. — Mas não era possível levar o cachorro, os dois cachorros junto. Então, o tempo foi passando… Até que Evandro, com 16 anos, eles retomariam essa tradição de passar as férias na praia.


E um primo do Evandro, que tinha 17 anos, ia ficar com os cachorros. — Da família do Evandro ali na casa do Evandro. — Então ele vinha para dormir ali esses dez dias de férias e o Evandro poderia ir com a família para a praia. E assim estava combinado… — Isso desde novembro combinado. — Só que ali, no final de novembro, o Evandro começou a sonhar com a avó dele. — A dona Mirtes, que já tinha falecido. — E no sonho a dona Mirtes falava assim para o Evandro: [voz fica longe] “Ai, filho, que bom que eles vão viajar e você vai ficar comigo”. E aí o Evandro falava: “Não, vó, eu não posso ficar com você porque você já morreu” e ela falava: [voz fica longe] “Não, você vai… Você vai ficar comigo sim”. E assim ele foi sonhando… Tipo, vários dias ele sonhava com a avó, dona Mirtes, falando que ele ia ficar com ela.


Então, o Evandro colocou na cabeça que talvez ele indo para a praia, ele fosse morrer afogado? Alguma coisa nesse sentido. — Porque era só o que vinha na cabeça dele. Mas ele falou: “Bom, eu quero muito ir para a praia, né? Então às vezes é só uma bobagem”. — E ele não contou pra ninguém. E o tempo foi passando, foi chegando ali a data da viagem… No dia da viagem, logo que o Evandro acordou, ele viu a avó dele na casa. E ele pensava: “Não, sonhar é uma coisa, ver a minha avó aqui em casa é outra”. Então ele achou já que ele estava ficando louco, alguma coisa assim… E aí ele arrumou as coisinhas dele ir ali pra praia, estava esperando o primo chegar, né? Eles estavam esperando o primo que vinha com o seu pai, o tio do Evandro pra eles poderiam sair, explicar as coisas dos cachorros, enfim… O primo ia ficar dormindo lá.


Quando o primo chegou, o primo chegou com uma mochila e uma prancha…. O Evandro olhou e o primo já deu um show ali falando que não ia ficar, que ele queria ir pra praia, queria pra praia e começou ali uma discussão, porque não era esse o combinado, alguém tinha que ficar com os cachorros e nã nã nã e não dava para ser o pai de Evandro, porque o pai que ia dirigir, enfim… Enquanto estava essa discussão na porta da casa, o Evandro olhou e viu a dona Mirtes… E a dona Mirtes olhou bem firme para o Evandro e falou: [voz fica longe] “É você que vai ficar comigo, você vai ficar aqui comigo”. — Foi um tom meio de bronca mesmo. — E aí o Evandro, que estava discutindo com o primo, eles quase saíram na porrada e tal, falou: “Quer saber? Que ir, vai”, aí virou para a mãe dele e falou: “Mãe, eu vou ficar, eu cuido dos cachorros… Eles estão acostumados comigo, é melhor mesmo. A gente fica aqui, vão tranquilos”.


E aí o tio que tinha ido levar o primo para ficar na casa, falou: “Bom, já que ele vai ficar aqui, eu venho todo dia dar uma olhada e tal, né? Vão tranquilos”. E aí foram para a praia encontrar com outros familiares lá, né? Mas foram para praia os pais do Evandro e esse primo, que foi no lugar do Evandro. O tio do Evandro, — que a gente pode chamar aqui de Luiz — o seu Luiz, tinha combinado de passar todo o dia lá para ver o Evandro. Então foi esse o combinado e ele saiu logo depois que a família de Evandro, os pais de Evandro saíram com o primo. Ele pegou o carro dele e foi embora. Dali, umas duas horas, o tio Luiz voltou e aí o Evandro falou: “Poxa, o cara também vai ficar vindo aqui toda hora? Vai achar que eu estou aprontando em casa? Não precisa vir aqui também toda hora, né?”. Aí foi lá, abriu o portão para o tio, falou: “Não, tio, o que o senhor quer e tal, né?”


E depois que ele ficou sozinho em casa, ele não viu mais a avó dele. — Ele não viu mais a vó dele… — E quando esse tio chegou de novo ali, ele viu a avó… E aí a avó que estava de frente pra ele, veio, contornou o Evandro e botou a mão no ombro do Evandro… E aí, quando ela estava com a mão no ombro do Evandro, o tio Luiz falou que os pais do Evandro e o próprio filho dele… E aí que ele notou que o tio Luiz estava com o olho inchado, eles tinham sofrido um acidente na estrada e os três tinham morrido… — Os três tinham morrido. — O tio Luiz que já tinha perdido a esposa e só tinha o filho — que morreu no acidente — e o Evandro que só tinha os pais… E aí depois daquela tragédia toda o tio Luiz que acabou de criar aí o Evandro, né? E foi como se fosse um pai para o Evandro. 


Então, a avó, aquilo que o Evandro achava que ele que ia morrer porque a avó estava falando pra ficar com ela, não era ele que ia morrer, era pra ele ficar na casa, justamente pra não morrer. E aí Tio Luiz acabou se mudando para aquela casa — que era a casa da avó mesmo, da dona Mirtes — e ficou morando ali, ele, o Evandro, os cachorros… E a família morreu no acidente. — Você vê como às vezes a gente não percebe os recados, né? Olha que doido isso. — O recado para o Evandro era: “Fica, porque você vai ficar aqui comigo na casa, você vai ficar vivo”. E a família que foi, o primo que insistiu tanto pra ir, acabou morrendo também. Vocês acham o quê? Que era hora do primo e não do Evandro? Ou o primo morreu no lugar do Evandro?

[trilha]

Assinante 1: Olá, Não Inviabilizers, aqui que é a Paula de São Paulo. Oi, Déia, oi, Evandro, acabei de ouvir sua história… Uma história triste pra vocês, mas eu acredito que ninguém morre de véspera, né? Eu tenho essa frase na minha cabeça. Então, assim, não era sua hora… Acredito que você ainda tem muito mais a viver e, infelizmente, era hora dos seus pais e do seu primo. Por algum motivo, acredito que eles tinham que fazer essa passagem juntos, talvez você não entenda, seu tio também não entenda, mas eu acredito dessa forma. Espero que você, seu tio e seus doguinhos estejam vivendo bem… E fica a saudade, né? Dos entes que partiram. Mas é isso, um grande beijo, Evandro. 

Assinante 2: Oi, Não Inviabilizers, aqui é a Duane de São Paulo. Queria dizer, primeiramente, que eu sinto muito por toda essa situação. Imagino que tenha sido muito doloroso, sabe? E talvez até confuso de pensar se era tua hora, se não era… A questão de perder entes tão queridos na sua vida. Realmente sinto muito mesmo, mas eu acredito que a sua vó foi um ser de luz aí, te iluminando… Porque eu acredito muito nessa questão de ser a hora ou não de fazer a passagem e ela realmente te guiou aí nessa situação a ficar. Eu espero que fique tudo bem, você, seu tio, seus doguinhos… E é isso, um beijo. 

[trilha]

Déia Freitas: Amanhã eu volto com mais uma história, gente… Um beijo e até amanhã.

[vinheta] Especial de Férias é mais um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]