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título: colega de apartamento
data de publicação: 12/01/2022
quadro: picolé de limão
hashtag: #colega
personagens: jamile e colega

TRANSCRIÇÃO

[vinheta] Picolé de Limão, o refresco ácido do seu dia. [vinheta]

Déia Freitas: Oi, gente… Cheguei. Cheguei pra mais um Picolé de Limão, e hoje eu já não estou sozinha… [efeito sonoro de crianças contentes] — Meu publi. — A Johnson & Johnson me convidou para uma campanha muito incrível sobre saúde mental e eu sugeri que a gente contasse histórias de mulheres que já foram tiradas de malucas — Este “maluca” bem entre aspas… — em algum momento da vida. Hoje e nos próximos dois sábados, eu vou contar histórias onde as mulheres protagonistas não estão malucas, mas que de alguma forma tiveram a sua paz de espírito e a sua saúde mental abaladas por interação com pessoas que vocês já sabem, né? Pessoas que eu não vou nem dar nome. Hoje eu vou contar para vocês a história da Jamile e a relação conturbada que nasceu da interação com uma colega de apartamento. Então vamos lá, vamos de história. 

[trilha] 

Na faculdade, a Jamile fez aí uma amizade muito massa com uma moça e parecia que ia ser uma amizade duradoura. — Sabe aquela pessoa que você tem muita afinidade e que é gostoso de conviver e tal? — Ela fez essa amiga, nunca teve problema com essa amiga, a não ser aí um dia que rolou uma festa ali na casa da Jamile e essa moça com a turma dela aí causou um pouco na festa, mas enfim… Jamile colocou na conta ali da empolgação, da bebida, festa e nã nã nã e tudo certo. Acabou a graduação, Jamile engatou ali um mestrado… E onde ela foi fazer mestrado ela foi morar numa república e era uma república ótima. Ela estava se dando super bem lá na república, quando esta amiga lá da graduação entrou em contato com ela. [efeito sonoro de celular tocando] — Por que ela entrou em contato? — 

Porque ela ia fazer mestrado lá onde a Jamile estava fazendo, e Jamile morando numa república, elas começaram a conversar e essa moça falou para ela: “Poxa, vamos dividir um apartamento, né? Em vez de você morar aí com um monte de gente, vamos morar nós duas, né? Nós somos amigas e nã nã nã, vai dar super certo”. E aí Jamile pensou e falou: “É, faz sentido… Vai ser legal morar só eu e ela. Vamos começar a procurar apartamento”. Isso já era comecinho de 2020, né? Então já tinha rolado aí um ano de pandemia. — Mas a gente ainda em pandemia, né? — 

E já começou que só Jamile procurava apartamento. Essa moça resolveu que ela ia viajar, enfim, né? Fez uma viagem para o exterior… Queria ficar o máximo de tempo com os amigos antes de se mudar para a cidade que a Jamile morava. Jamile mais uma vez botou na conta ali da empolgação. — Afinal, a moça ia se mudar, ia ficar longe dos amigos, então deixa ela, né? — Acontece que a mãe dessa moça queria um apartamento de três quartos… — Para quê? — Para quando ela fosse visitar a filha, tivesse um lugar ali para ela ficar. E aí lá foi Jamile procurar apartamento sozinha para dividir com essa moça e não achava dentro ali de um preço bacana um apartamento de três quartos… Acabou alugando um apartamento de dois quartos. Então um quarto para cada uma, e quando a mãe aí da moça viesse, que ficasse ali no quarto da moça, né? 

Elas começaram a morar juntas em março de 2020, e de março até novembro, a saúde mental da nossa amiga Jamile foi pelo ralo. Pensa numa colega de apartamento insuportável… Esta moça conseguiu lascar todo o chão do apartamento que era de madeira. — Como ela conseguiu arrancar lasca? Ela arrancava lasca… — Tudo o que ela fazia, ela quebrava, quebrou armários… Ela gastava muito dinheiro assim em bebida, e aí no final de semana ficava gritando de madrugada as músicas da Lana Del Rey. E aí como ela gastava todo o dinheiro dela em bebida o que ela fazia? Ela comia a comida da Jamile. Então tinha dia que a Jamile chegava e não tinha o que comer, porque essa moça tinha comido tudo… 

Essa moça tinha um amigo da cidade dela que também estava morando ali na mesma cidade que a Jamile, só que ele morava numa república e essa moça saía… — A gente em plena pandemia. — Saía para festas e para ficar na república desse cara e, assim, várias vezes ela achava que ela estava com Covid, aí corria no convênio fazia teste… Era um inferno, porque a Jamile não conseguia se proteger, né? Ela só saía da casa dela para ir na casa do namorado que era no prédio do lado. — O namorado também cumprindo ali o isolamento certinho, de máscara, tudo certinho… — E essa moça aí causando, fazendo festa, indo em festa todo dia. A casa vivia suja, porque essa moça não colaborava. — Em nada… E, gente, vamos combinar que é muito ruim todo dia você tem que ficar chamando atenção de alguém para fazer o mínimo, para fazer o combinado. E era isso que acontecia. — 

Essa moça não fazia nada e a Jamile ficava ali estressada, péssima, com a casa suja, com tudo bagunçado e essa moça saindo, indo e voltando, enfim… Um caos. E a Jamile tentava pegar leve. — Porque falava: “Poxa, ela está se adaptando, é o primeiro ano aqui ainda e nã nã nã”. — Mas tinha hora que não dava, né? Até que chegamos a outubro. — De 2020. — E uma amiga da Jamile precisava ir ali para a cidade onde ela estava porque ela tinha arrumado um emprego, então ela precisava ficar uns dias ali na casa da Jamile só para se ajeitar, né? Conseguir achar um lugar para morar, enfim… E a Jamile falou: “Não, pode vir… Aqui no meu quarto tem uma caminhada auxiliar aqui que fica embaixo da minha cama, você dorme aqui uns dois, três dias até você se ajeitar aqui na cidade. Sem problema nenhum”. — E essa moça chegando foi bom ali para tirar aquela tensão de convivência entre Jamile e a colega dela de apartamento, né? Então essa moça deu ali uma aliviada no clima, né? — 

Só que de final de semana a Jamile não ficava ali no apartamento, ela ia para o prédio do lado, pra casa do namorado e assim deixava também a colega de apartamento mais à vontade. Esta amiga de Jamile que chegou depois, que ia ficar só uns três dias, falou para Jamile que ia fazer uma balada que ia sair com uns amigos e tal… Jamile ficou meio assim, porque falou: “Bom, como é que ela vai fazer? Vai de máscara? Como é que vai ser, né?”, mas resolveu não encarnar com isso. — A colega de apartamento animada… — Falou: “Bom, deixa as duas lá e eu fico aqui com meu namorado de boa”. 

Até que esta amiga, — Que ia ficar só três dias ali na Jamile. — liga para dizer que tinha ali umas pessoas que vieram, — Uns amigos dela. — que vieram lá da cidade que ela morava para passar uns dias com ela… E esta moça colocou todo mundo, — Absolutamente todo mundo. — no quarto da Jamile. Jamile apavorada… — Por conta da Covid, ficou mal, não conseguia nem falar no telefone e o namorado da Jamile pegou o telefone, ligou para essa moça e falou: “Olha, pode sair todo mundo daí, pode ir todo mundo ir embora”. — O quarto estava uma zona. — E no quarto a Jamile tinha ali cartão de crédito, tinha as coisas dela, enfim… — E o quarto dela estava cheio de gente desconhecida, né? — 

Só que quando o namorado falou com essa moça, essa moça saiu com todo mundo e a colega de apartamento da Jamile achou que fosse com ela também e saiu também, correu ligar para mãe e falar: “Olha, Jamile está me expulsando daqui”… — E isso não tinha acontecido, né? — Rolou uma treta entre elas duas, né? — E a mãe dessa moça. — Só que acontece que o contrato estava no nome da Jamile… E o apartamento estava detonado. Então, a Jamile achou melhor passar esse contrato para a mãe da moça e a moça ficar no apartamento e ela sair. Então, do nada, ela que tinha alugado um apartamento com contrato e tudo, estava sem ter agora onde morar, estava com o mestrado parado. — Porque ela não tinha cabeça para fazer nada, né? Porque essa menina atormentava ela o dia inteiro. — 

E aí ela saiu de lá e achou: “Bom, agora eu me viro, mas enfim, vou ter paz”… — Até parece que ela teve paz. — Esta moça começou a inventar coisas sobre a Jamile nas redes sociais. Ela começou a falar que a Jamile não limpava a casa… — Sendo que era ela que não limpava, né? — Que a Jamile deixava, tipo, semanas, o banheiro sem limpar… Começou a falar que a Jamile saiu com o ex-namorado dela, que a Jamile espionava ela dentro do apartamento e que ela tinha expulsado essa moça do apartamento porque teve um surto, enfim… Começou a inventar mil coisas da Jamile nas redes sociais, como se ela fosse a pessoa que aí foi afetada por todo esse desequilíbrio de Jamile. 

Ela faz vídeos no Tik Tok sobre a Jamile com essas mentiras assim, né? Pintando a Jamile de louca real. E, assim, por mais que os seguidores não saibam quem é, os amigos que elas têm em comum e que olham ali aquele Tik Tok sabem que ela está falando da Jamile apesar de ela não citar nomes, nada, né? E aí a Jamile agora segue com esse trauma, né? Ainda é uma situação que gera muito estresse para ela. E agora ela está tentando retomar aí os estudos, né? Retomar o mestrado, porque foi praticamente um ano que ficou tudo paralisado por conta dessa colega de apartamento. 

Eu achei importante trazer essa história porque a gente percebe que não é só nas relações amorosas que acontece esse tipo de coisa, né? Amigos, familiares, ambiente de trabalho, são ambientes também propícios a esse tipo de relação tóxica, né? Onde a gente vai adoecendo, as pessoas colocam a gente como malucas e, no final, a gente fica mal, real. 

[trilha] 

Assinante 1: Oi, Déia, meu nome é Ana, eu falo de Roraima e eu tenho duas coisas pra falar pra Jamile. Uma é: Se essa garota está te ofendendo nas redes sociais, mesmo que ela não esteja expondo seu nome, mas você está se sentindo pessoalmente ofendida, você pode tomar medidas judiciais em relação a isso. Seria um juizado especial, então pode ir na Defensoria Pública, procurar o próprio Juizado para se informar melhor. Em relação a dividir apartamento, cara, eu sei que sai mais em conta, mas às vezes é melhor [risos] você ficar com um aperto maior financeiro do que você estar pagando em saúde mental. Eu, pelo menos, fiz isso… Procurei algo um pouquinho mais simples, que coubesse no orçamento, para eu ter minha saúde mental de não ter esse desgaste, sabe? De dividir apartamento. E, se for dividir, tem que conhecer muito bem a pessoa, tem que ser uma pessoa que você sabe como ela é, a rotina dela dentro de casa, pra não ter esse perrengue. E é isso, boa sorte, beijos. 

Assinante 2: Oi, Não Inviabilizers, aqui quem está falando é Priscila Armani, de Belo Horizonte. Estou enviando esse áudio para dar um abraço na Jamile por ela ter passado por essa situação tão difícil e ainda estar lidando com esses traumas que ficaram. Acho que você fez a decisão mais acertada de passar o apartamento para a moça, que era não só uma péssima companheira de quarto, mas uma amiga extremamente abusiva, que não te respeitava e que agora está te difamando nas redes sociais. Então, eu acredito que você tomou a decisão mais certa. Agora você precisa tirar um tempo para você se curar… A gente às vezes não percebe o tanto que é necessário romper com pessoas que não nos respeitam, não nos ouvem, não levam em consideração os nossos sentimentos. Independente de ser relação amorosa ou de ser amizade, a gente precisa sim tomar atitudes para preservar nossa saúde mental, evitando nos relacionar com esse tipo de pessoa. Então, Jamile, eu te desejo que você encontre aconselhamento terapêutico que te ajude a se curar. Leva um tempo pra gente se curar de relações que nos fizeram mal, mas a gente eventualmente consegue sim se curar com a ajuda necessária. De repente, vale a pena procurar um aconselhamento jurídico, porque difamação é crime, né? Então eu te abraço muito, te entendo muito e eu espero que você consiga superar os seus traumas. 

Déia Freitas: Eu falo muito no podcast sobre romper amizades, né? Que às vezes é necessário… A gente sempre fica nessas de “ah não, mas é meu amigo”. — “Foi meu amigo ou minha amiga a vida toda”. — Mas às vezes é uma relação tóxica também e que, pra nossa saúde, para o nosso bem estar, é melhor romper… Então fica aí a história da Jamile. Era uma história de uma bela amizade e que terminou assim, com a Jamile traumatizada e com a outra inventando mil coisas nas redes sociais sobre ela. Do mesmo jeito que eu falo pra Jamile, eu vou falar para vocês, para vocês não esquecerem quando vocês estiverem nesse tipo de situação, de alguém falando que você está maluca, você não está maluca… Mesmo que tenham feito você acreditar ou por você sentir o que sente, por você ter falado o que você falou… Você não está maluca. 

E essa parceria nossa aqui do podcast com a Johnson & Johnson tem conteúdos bem legais e, caso você queira se aprofundar no assunto, eu vou deixar o link aqui do movimento Falar Inspira Vida, que é: falarinspirarvida.com.br. E um negócio legal aqui da Alexa, é que você consegue acessar mesmo não tendo a Alexa. Eu vou deixar o link também aqui, que é: jnbrasil.com.br/alexa-vamos-cuidar. É “alexa tracinho vamos tracinho cuidar” e não precisa de Alexa para acessar o conteúdo, e você pode baixar aí o aplicativo e começar a usar. Um beijo e eu volto em breve com mais uma história da campanha. 

[vinheta] Quer a sua história contada aqui? Escreva para naoinviabilize@gmail.com. Picolé de Limão é mais um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]
Dourado

Dourado é pai, abandonou a teologia e a administração para seguir a carreira em TI e sua paixão por fotografia. Gosta de cinema, séries, música e odeia whatsapp, sempre usou Telegram.