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título: padrinho
data de publicação: 12/01/2022
quadro: picolé de limão
hashtag: #padrinho
personagens: márcio, renato e jorge

TRANSCRIÇÃO

[vinheta] Picolé de Limão, o refresco ácido do seu dia. [vinheta]

Déia Freitas: Oi, gente… Cheguei. Cheguei para mais um Picolé de Limão, e hoje eu vou contar para vocês a história do Márcio. Então vamos lá, vamos de história. 

[trilha] 

Bom, o Márcio ele é casado há 10 anos com o Renato e eles têm um relacionamento muito bacana, muito franco, de muito diálogo. — E, assim… — Não tem muito que falar assim, né? Eles se dão super, super, super bem. Só que o Marcio, ele tem um amigo que, além de amigo dele, é padrinho de religião e eles se dão muito bem. — A gente vai chamar esse cara de Jorge. E o Jorge é muito amigo do Márcio, é padrinho de religião do Márcio… Eles professam da mesma fé. — E o Renato não tem religião nenhuma e não se mete nisso. 

Há uns quatro anos, o Jorge teve umas questões financeiras aí e pediu emprestado para o Marcio um dinheiro. O Márcio que não faz nada sem falar com o Renato foi falar com ele e falou: “Olha, o Jorge está passando aí por um problema e pediu um dinheiro emprestado. Eu tenho, sei lá, cinco mil, mas ele precisa de dez. Você tem mais cinco pra emprestar para o Jorge?” O Renato foi bem sincero e falou: “Olha, você sabe que essa questão de emprestar dinheiro é complicada… Eu posso emprestar para você e você empresta para o Jorge, mas você é que me deve”. — E, gente, eu já amei, Renato, porque é bem isso. — E aí o Márcio falou: “Ah, tá bom então, ele precisa. Me dá”. 

E aí Renato foi lá, pegou cinco mil, deu na mão do Márcio e falou: “Você faz o que você quiser com esse dinheiro”. — Quer dar pro Jorge? Dá pro Jorge. — Beleza, Márcio foi lá e deu dinheiro para o amigo e padrinho Jorge. E aí o que o Márcio ficou? Porque, assim, a relação que eles têm é muito boa e ele ficou com aquilo: “Pô, eu tenho que devolver o dinheiro do Renato”. E aí ao longo desses tempos, — Nem demorou tanto. — Ele foi juntando e pagou o Renato. [efeito sonoro de caixa registradora] — Então, quer dizer, Márcio não deve nada para Renato. Renato não deve nada para Márcio e Jorge deve agora 10 mil para Márcio. Essa é a questão. — 

Bom, o tempo foi passando, pandemia chegando, as coisas apertando para todo mundo… E o Marcelo resolveu dar um toque no Jorge, falou: “Olha, Jorge, você precisa começar a me devolver aqueles 10 mil que eu vou precisar. Renato tá segurando as pontas meio que sozinho e eu preciso também chegar junto e nã nã nã”. E aí o Jorge falou: “Olha, eu não tenho como devolver agora, eu estou também aí apertado e nã nã nã” e eles tiveram uma primeira discussão. E o Renato não se envolveu porque, né? Amizade deles, o Renato não tem nada contra o Jorge, falou: “Olha, você que emprestou, você sabia que isso poderia acontecer. Agora vocês aí se entendem, né?” — Não tinha muito o que se entender, porque o Jorge não tinha grana. — 

E a coisa foi ficando num ponto que o Jorge ficou tão sem grana real, que o Jorge não tinha onde morar. [música triste ao fundo] E aí ele recorreu a quem? Ao Márcio. E aí o Márcio mais uma vez foi falar com o Renato, o Renato falou: “Olha, a gente tá junto, a gente é casado há tantos anos… Você quer pôr o Jorge aqui porque ele precisa de uma força? Eu não vou falar que não… A Casa é minha e a casa é sua”. — Gente, eu amo o Renato. — “A casa é minha e a casa é sua, mas você sabe que pode dar problema. Você sabe como é o Jorge e nã nã nã”. Márcio falou: “Olha, eu não tenho alternativa, ele é meu padrinho, além de tudo tenho um respeito muito grande por ele, gostaria que a gente desse essa força para ele”, Renato falou: “Tudo bem, a gente tem um quarto aí, chama ele”. 

Lá vem o Jorge com os paninhos de bunda dele, com as coisinhas dele e ocupou o quarto. — Só que, gente, não é fácil conviver na pandemia. Ainda mais com uma pessoa que não tem os mesmos hábitos, né? Só que o Renato é um cara muito tranquilo e o Renato é meio que como eu, tipo, o Jorge é um problema do Marcio. [risos] Eu não quero nem saber, né? E eu acho que ele está certíssimo de agir assim. — Então foi criando ali um atrito entre Márcio e Jorge. — Que são os verdadeiros amigos aí, que tem essa relação também da religião. — Só que a coisa foi ficando insustentável… 

Até que um dia numa briga entre Márcio e Jorge, o Jorge falou uma coisa lá que o Renato não gostou, e aí o Renato entrou no meio e falou: “Olha, tudo bem, vocês são amigos, vocês estão brigando, mas dentro da minha casa, Jorge, você não vai falar isso. Então tô te dando um aviso, da próxima vez que isso acontecer é rua, beleza?” — Porque o Renato é assim, tipo, ele vai aguentando… A hora que ele não aguenta mais ele fala: “olha, agora para mim não dá mais, acabou”. Também não acho que ele está errado. —

Aí mais o tempo se passou… Agora, em maio, por causa de mais uma discussão, [efeito sonoro de pessoas discutindo ao fundo] o Márcio e o Jorge acabaram saindo no tapa. — No tapa. — E aí o Renato falou: “Olha, não dá mais. Jorge, procura outro lugar para ficar, te dou um mês aí. E aqui não dá mais, aqui não tem mais como… Vocês estão se pegando, eu não consigo mais trabalhar, tá um inferno e nã nã nã”. — E, gente, já tinha dado um tempo também para o Jorge se ajeitar e ver o que ele ia fazer da vida dele, né? Do que ficar ali na cola dos dois… — Aí o próprio Jorge com o orgulho ferido resolveu sair de lá e foi para casa de um outro amigo. Pegou todas as coisas dele e foi pra casa desse outro amigo. Só que esse outro amigo aguentou ele duas semanas. — Porque todo mundo diz que o Jorge não é uma pessoa fácil. — 

E aí o Jorge não estava falando com o Márcio, o Márcio tentou retomar esse contato, né? Mas ele ainda estava com o orgulho ferido de ter sido colocado na parede ali para arranjar outro lugar, né? E aí ele foi pra casa de um outro amigo, que também aguentou ele ali uma semana e falou: “Jorge, mano…”, né? — O Jorge é complicado. — E aí agora o Márcio descobriu que ele está morando, tipo, num albergue. — E aí é foda, né, gente? — Ele está morando em um albergue… E aí no albergue, assim, ele tem que chegar cedo para pegar lugar, senão praticamente ele tem que dormir na rua e o Márcio está se sentindo culpado, porque é o amigo, é o padrinho dele e ele não tá sabendo como resolver, porque ele também não tem muita grana e, enfim… 

O que eu disse para ele? Que por mais que eles tiveram brigas e tal, eu acho que agora é a hora sim de chegar junto e ajudar o Jorge. Por mais que o Jorge tenha feito isso ou aquilo… E juntar os amigos, gente… Juntar os amigos, ver se dá para pagar pelo menos uma pensão que não seja albergue, né? — Porque albergue é ordem de chegada, se você não chegar no horário, você não dorme. É uma vida difícil demais. — E não sei, eu acho que tem que se juntar sim os amigos e dar uma força para o Jorge, independente do que ele fez. O Márcio falou que o Renato também falou isso, que eles têm que se juntar e tal. Porque ninguém está com grana assim para pegar e bancar o Jorge, né? Só que ele está achando que, tipo, tudo começou quando ele meio que botaram o Jorge pra fora, mas a coisa estava assim nas vias de fato, eles estavam se pegando. — Se batendo. — 

Também não sei se dava, né? Para ficar… É difícil conviver. E o Jorge também, ele é um adulto, então tem as escolhas dele também, né? Mas eu acho que agora não dá pra abandonar o Jorge, acho que tem que juntar e chegar junto logo. Tem essa questão também que o Jorge é orgulhoso, então às vezes ele não aceita… — Mas aí você vai lá e fala: “Não, vai aceitar sim”. —Porque às vezes com amigos a gente tem que ser assim, né? Falar: “Não, engole o seu orgulho aí e vamos. Vamo junto, né?”. Então, eu acho que nessa questão da moradia, agora é a hora de não deixar as coisas piorarem, porque as coisas pioram muito rápido. Então eu acho que agora, agora já, urgente, é ajudar o Jorge. Faz aí uma vaquinha entre os amigos, também não, sabe? Não entrega pra Deus… 

Tipo, é chegar junto todo dia… “Vamos pagar o que? Seis meses lá pro cara morar? Vamos pagar”, “Pô, vamos pagar a refeição do cara? Vamos pagar?”. Assim, tem que chegar junto real assim… Que agora é a hora que o cara está precisando. É assim que eu penso. Então o Márcio queria aí uns conselhos de vocês. 

Assinante 1: Oi, Márcio, aqui é Isabel de Ouro Branco, Minas Gerais. A importância da religião é justamente viver em comunidade. Já que vocês professam a mesma fé, vocês têm uma religião, junte, além dos amigos, as pessoas que professam a mesma fé, que se juntam às vezes para o seu culto religioso e façam uma campanha mesmo de ajuda ao Jorge, né? É isso que é a importância da religião, de viver na comunidade e eu tenho certeza que vocês vão encontrar muita ajuda. Estender a mão nesse momento é muito importante para que as coisas não piorem. Então, às vezes, além dos amigos, você consegue com o pessoal da mesma religião fazer uma boa vaquinha para ajudar o Jorge nesse momento. Deus abençoe, que você fique bem, um abraço. 

Assinante 2: Oi, Déia, oi, Não Inviabilizers, aqui é a Neyla de Curitiba. Márcio, até quando você vai ficar nessa, meu amigo? Presta atenção, o cara te deu o calote, o cara entrou na sua casa, ofendeu o seu marido, o cara deu na sua cara… Literalmente você ofereceu a outra face. Ele simplesmente está colhendo as coisas que ele plantou e plantou bem plantado, porque ninguém suporta ele. Por laço de padrinho? Não sei se vale a pena manter essa pessoa na sua vida, não… Estou vendo a hora que o Renato vai se cansar dessa situação, porque, de verdade, seu marido é um anjo. Dê graças a Deus por ele. Sucesso para você. Boa sorte, um abraço. 

Déia Freitas: E o que eu penso é isso, agora é a hora… Independente do que o Jorge tenha feito para essas pessoas todas que não conseguiram conviver com ele, agora é a hora de chegar junto e ajudar o Jorge. É isso que eu penso. Seu amigo, seu padrinho, uma pessoa importante para você, então vamo junto… Então é isso, gente. 

[vinheta] Quer a sua história contada aqui? Escreva para naoinviabilize@gmail.com. Picolé de Limão é mais um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]
Dourado

Dourado é pai, abandonou a teologia e a administração para seguir a carreira em TI e sua paixão por fotografia. Gosta de cinema, séries, música e odeia whatsapp, sempre usou Telegram.