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título: givaneide
data de publicação: 11/04/2024
quadro: picolé de limão
hashtag: #givaneide
personagens: dona vanda e givaneide

TRANSCRIÇÃO

Este episódio possui conteúdo sensível e deve ser ouvido com cautela.

[vinheta] Picolé de Limão, o refresco ácido do seu dia. [vinheta]

Déia Freitas: Oi, gente… Cheguei. Cheguei para mais um Picolé de Limão. — E esse Picolé de Limão pode despertar aí alguns gatilhos, então ouça com cuidado. — E hoje eu vou contar para vocês a história da Dona Vanda. Então vamos lá, vamos de história. 

[trilha]

A Dona Vanda casou aí com um homem quando ela tinha 22 anos e era um casamento aí com seus altos e baixos, Dona Vanda desconfiava aqui e ali de alguma traição, mas nunca chegou a pegar nada. Então o tempo foi passando, Dona Vanda foi aturando esse homem aí e teve dois filhos, um filho no exército, que estava na Amazônia — numa missão — e uma filha estudando no Canadá. Então era Dona Vanda e esse homem. Bom, 20 e tantos anos de casamento, as coisas indo às vezes bem, às vezes nem tão bem, mas segundo Dona Vanda, nada que fosse assim algo que ela pensasse em separação. Até que um dia, Dona Vanda começou a se sentir muito cansada, muito cansada, começou a fazer exames e descobriu um câncer. [efeito sonoro de tensão] Dona Vanda ficou arrasada, contou pro marido e eles, em comum acordo, resolveram não contar para os filhos porque os filhos estavam longe, iam ficar preocupados e não iam conseguir voltar, enfim… Só se a coisa ficasse muito ruim é que eles contariam aí pros dois filhos. 

O tempo passou e mesmo que o seu tratamento tenha eficácia aí no tratamento contra o câncer, você vai passar uma fase fazendo, sei lá, quimio ou rádio ou as duas e que você vai ficar debilitado, debilitada, né? Dona Vanda chegou nessa fase em que ela não conseguia sair da cama, mal conseguia sair da cama. Nessa época, o marido dela já trabalhava só meio período, já era aposentado, só que ele não ajudava a Dona Vanda em nada, nada, nada, nada… E tinha que se arrastar… — E se arrastar é literalmente se arrastar da cama pra poder botar um ovo pra cozinhar, pra comer, porque ele não fazia nada, ele comia na rua… — Ele praticamente abandonou Dona Vanda a própria sorte em casa. Ele vinha, tomava banho, assistia TV, dormia agora no outro quarto, não dormia mais com ela… E ela nesse sofrimento, às vezes vinha uma amiga ajudar, mas ninguém pode todo dia, né? Todo mundo trabalha e tal… Uma amiga queria levar ela para casa, mas o próprio marido da amiga não deixou. Então Dona Vanda estava passando um período de muito sofrimento. — Eu não vou ficar aqui detalhando o sofrimento que ela passou, mas ela passou um período muito difícil. –

Até que um dia, ela estava deitada, ela tinha conseguido levantado e ter comido uma maçã, que uma amiga tinha trazido umas frutas e tal e, de repente, o marido dela chegou com uma moça. — Uma moça? Sim, uma moça. — E a moça já rindo, falando alto e com duas malas… — Parece brincadeira, mas é uma coisa surreal… — O marido de Dona Vanda trouxe uma amante para morar na casa. — É isso que vocês estão ouvindo… — O cara com a mulher tratando um câncer, muito debilitada… Nem levar ela no tratamento ele levava, quem levava era um vizinho, que a gente vai chamar aqui de “Reinaldo”. O Reinaldo que levava a Vanda para fazer o tratamento e depois ia buscar, não cobrava nada… Ele fez por compaixão, porque viu que realmente um dia ela estava tentando ir de ônibus e não ia conseguir. E aí o marido da Vanda instalou uma amante — uma amante — na casa. 

Vanda tinha um banheiro, era uma suíte o quarto, então ela só saía do quarto quando ela tentava comer alguma coisa e a moça via a Vanda se arrastando e nada fazia, nem ajudava, nada… Era como se a Vanda não existisse dentro da própria casa. E ela se arrastava, se arrastava mesmo, gente, se arrastava… Ela chorava muito e acabou contando para o Reinaldo o que estava acontecendo, o Reinaldo falou com a esposa dele — que a esposa trabalhava o dia todo então não acompanhava muito, né? O Seu Reinaldo já era aposentado —, e aí a esposa do Seu Reinaldo — que a gente pode chamar aqui de “Marília” —, a Marília arrumou uma cuidadora pra Dona Vanda, falou: “Ó, eu conheço uma mulher, ela é cuidadora, ela cobra tanto por mês, pelo menos pra ficar com você aí durante o dia, te ajudar a fazer as coisas… O que você acha?”. A Vanda, que já estava aposentada também, sempre foi professora, ela tinha a sua aposentadoria e ela falou: “Eu consigo pagar, pode pedir pra ela vir aqui falar comigo”.  — E aí agora nessa história entra Givaneide. –

Givaneide é uma cuidadora de idosos que tava com um idoso que ela só dormia na casa, durante o dia tinha a empregada que ficava, então ela podia ficar durante o dia com a Dona Vanda. Givaneide foi lá, já no dia ela já ajudou a Dona Vanda em algumas coisas, Dona Vanda gostou muito dela e ela começou a trabalhar. Só que Givaneide ela não entendia a dinâmica daquela casa, que tinha uma mulher ali que ficava para baixo e para cima com o marido de Dona Vanda, que foi apresentado pra Givaneide como marido e quem era aquela mulher? Aí, lá pelo quarto dia que ela estava trabalhando ali para Dona Vanda, ela perguntou, ela falou: “Olha, a senhora me desculpa e tal, mas eu preciso perguntar quem é essa mulher aí com o seu marido? Porque não sei, você fica aqui no quarto, mas eles estão juntos, eles dormem na mesma cama”. Aí a Dona Vanda começou a chorar e contou que o marido tinha trazido a amante para morar lá enquanto ela estava doente. — Porque ela não tinha força pra nada, né? Não tinha força pra expulsar a mulher de lá. –

A Givaneide falou: “Mas você está bem com essa situação?”, e aí ela chorou muito, falou que não, que se sentiu humilhada… — Porque lógico, né, gente, pelo amor de Deus, que homem é esse? — E aí a Givaneide falou: “Não, tá bom…”, aí foi lá, fez a sopa, fez as coisas dela e, a partir daquele dia, sem que Vanda soubesse, a Givaneide começou a hostilizar esta mulher lá na casa da Dona Vanda. Então, o que ela fazia? Ela primeiro foi perguntar pra mulher: “O que você está fazendo aqui?”, aí a mulher falou: “Eu moro com Fulano”, ela falou: “Mas você sabe que a Vanda é a esposa”, ela falou: “Mas a Vanda não está mais com ele” e aí Dona Givaneide falou: “Tá bom, tá bom, tá bom…”. — E aí aqui agora a gente vai entrar numa zona um pouco cinza, que não sei… — Givaneide começou a fazer pequenas coisas contra a moça… Primeiro, ela cortou as calcinhas da moça na gaveta, e aí a moça foi tirar satisfação com ela e ela falou: “Não, eu não entrei no seu quarto, não sei nem que cor que são as suas calcinhas. Não sei nada. Por quê? Elas estão cortadas?”, “Não, porque cortam minhas calcinhas”, aí a Givaneide vai respondeu pra ela: “Mas não é melhor as calcinhas do que o seu rosto? Já imaginou um dia você acordar e você está com o rosto todo cortado? Não ia ser horrível?”, aí a moça já ficou meio assim… 

Mais alguns dias, um corte na bolsa da moça. — Sabe quando você pega o canivete e você rasga a bolsa? — Mais uma vez a moça fez um escândalo e o marido ele ficava naquelas, porque a Givaneide falava: “Olha, não fui eu… Eu acho que ela mesma está cortando. O senhor toma cuidado com esse tipo de mulher, hein? Ela mesma está cortando as coisas dela… Daqui a pouco ela te mete um processo” e ele ficou cabreiro. E aí, mais uma vez, sem ninguém ver, a Givaneide falou: “É, hoje foi a bolsa, né? E se fosse seu estômago? Não era pior?”. E aí, gente, a Givaneide começou a cortar as coisas da moça, a rasgar e sempre que a moça vinha questionar, ela falava: “Se fosse no seu corpo era pior”. E aí a Givaneide começou a [risos] falar pra ela às vezes assim: “É, porque a gente não sabe de onde as pessoas vieram… Eu não sei quem você é, você não sabe quem eu sou… Você já matou alguém? Você sabe se eu já matei alguém? Depende. Se a pessoa atravessar o caminho de alguém…” e, assim, Givaneide [risos] nunca matou ninguém. [risos] Givaneide não tem passagem, nada… Mas ela virou um monstro. [risos] E, assim, tudo muito na maciota, por que qual era a preocupação dela? De Dona Vanda não passar nervoso.

E aí ela fez que fez e fez também a cabeça do marido da Dona Vanda, falou: “Essa mulher vai te complicar, o senhor escuta o que eu estou falando. Eu estou aqui há pouco tempo, eu já vi isso acontecer… Essa mulher vai te complicar”. Até que a moça lá, num dia que Givaneide [risos] com um isqueiro botou fogo nas pontinhas do documento da moça [risos] enquanto a moça não estava e depois falou que talvez fosse obra do demônio. Ela falou: “Eu já vi assim, quando queima documento as vezes é aviso de facção pra queimar a pessoa”, [risos] gente, nem existe isso… [risos] Sabe? Ela falava coisas absurdas a Givaneide, absurdas a Givaneide… [risos] E aí a moça ficou assustada e falou para o tiozinho lá, marido da Dona Vanda, que ele tinha que tomar uma providência e ele falou: “Olha, é melhor você ir embora, já não está funcionando e tal”, e aí ela pegou as coisas e foi embora. — Givaneide podia parar aí, não podia parar aí? Mas Givaneide ela queria se vingar. Por quê? Porque ela já viu muita mulher passar pelo que Dona Vanda tava passando. – 

E, na época, depois que essa mulher foi embora, a Givaneide lavava a roupa da Vanda e começou… Ela se ofereceu, nem falou nada, só começou a pegar a roupa do cara também e botar na máquina ali para lavar, né? — Não era nada lavado na mão, então ela voltava na máquina e tirava ali e estendia.— Givaneide começou a achar coisas nas roupas dele… Um pedaço de vela, uma flor seca e foi mostrando pra ele e falando: “Olha, o senhor vai me desculpar, mas eu vou ter que falar… Essa mulher fez feitiço para o senhor. Olha aqui as coisas que eu estou achando”, “Olha aqui o que eu estou achando com o seu nome”, escrevia papel. [risos] Givaneide… [risos] Givaneide tô com medo de você. [risos] Escrevia papel e foi falando… “Se o senhor ficar doente, foi ela”, “Se o senhor ficar doente, foi ela” e ele foi ficando tão, assim, mal… Começou a dar uma tosse nele que eu acho que não tinha nem nada a ver assim, né? E ele foi ficando assim que ele falou que ia pra casa do irmão dele em Goiás, que era um lugar mais quente, assim, porque a tosse dele não passava, e aí ele foi embora.

E, nisso, o tratamento estava ali indo… — Ela ia de carona com o seu Reinaldo, com o vizinho ali e as coisas de casa era Givaneide que fazia, que ajudava ela e tal. — Até que ficou só as duas… O tempo foi passando, Dona Vanda foi se recuperando, se recuperou, teve alta e hoje só faz acompanhamento e tá ótima. E acabou que o próprio marido pediu divórcio, antes mesmo que ela pedisse, ele pediu, porque ele falou que ele não ia voltar mais de Goiás. Então, a casa eles fizeram um acordo ali e ficou para Dona Vanda, os filhos só ficaram sabendo quando eles vieram, sei lá, um ano, um ano e meio depois, de férias, ela já estava já bem melhor — ainda estava em tratamento, mas já estava bem melhor — e ela nem chegou a contar para os filhos de amantes, nada… Só contou que ele foi embora e os filhos mesmo assim ficaram contra o pai, né? Que abandonou a mãe nesse momento difícil. E aí ela optou por não contar para os filhos, da amante, de nada… Quando Dona Vanda já estava aí se recuperando, a Givaneide foi contando para ela tudo que ela fez. [risos] E Vanda só ria, né? Amou as maldades. [risos] 

Ela nunca matou ninguém, nunca cortou ninguém, mas ameaçou a moça de fora a fora. Ela não é envolvida com nenhum tipo de magia, nada… [risos] Então ela só pegava coisas aleatórias, uma rosa seca, um pedaço de graveto… [risos] Partiu uma vela em três pedaços [risos] e mostrava para o marido de Dona Vanda, falando: “Ó, ela fez… Fez alguma coisa pro senhor”. [risos] Eu já amo tanto… [risos] É errado? É errado. Principalmente as ameaças de cortar a moça, de queimar a moça, né? Foi bem errado. Poxa, você vai botar uma amante dentro de casa com a mulher doente? E essa amante nem aí também? De ver a mulher ali sofrendo, humilhada, com dor, se arrastando pela casa e você ali? — Ah, olha, mereceu… Mereceu. — Ainda bem que Vanda se recuperou. Ela escreveu para mim e tá longe daquele canalha, daquele ex-marido dela e, eu, se fosse ela, tinha contado para os filhos… Até da amante, de tudo, porque os filhos ficaram bem decepcionados com o pai, porque o pai foi embora, né? Enquanto a mãe estava tratando o câncer e tal… Tinha que contar da amante. Ainda dá tempo, hein, Vanda? Conta para seus filhos… — Eu contaria. — O que vocês acham?

[trilha]

Assinante 1: Oi, gente, oi, Não Inviabilizers, oi, Déia, eu sou a Marcela aqui de São Paulo. Olha, se justiça tem nome, se chama “Givaneide”. Seu anjo da guarda tem nome, se chama “Givaneide”. Eu amei essa história, quando a Déia começou a falar que é zona cinza, eu fiquei: “Não, não é zona cinza, não, [risos] é a justiça sendo feita”, amo. Enfim, eu acredito em muitas coisas espirituais e eu acho que a Givaneide aí ela recebeu algumas orientações muito boas, sabe? A gente precisa de gente assim, que faz as coisas, que resolve, que tira a gente apuro, eu amo, eu gosto de gente que faz. Parabéns, Givaneide, e sinto muito, Dona Vanda, por tudo que a senhora passou. Te desejo tudo de bom. Beijos. 

Assinante 2: Oi, Não Inviabilizers, aqui quem fala é a Poliana de Budapeste, Hungria. Sou “Givaneider” desde pequenininha, ela foi tudo de bom, gente, não errou… E se ela errou foi tentando acertar. Eu acho que ela procedeu que com as armas que ela tinha naquele momento, era o que ela podia ter feito. Não acho que errou em momento algum. E, Vanda, eu espero que você esteja bem, que você tenha uma vida feliz depois de tudo que você passou. Um beijo para todo mundo, é isso. 

[trilha]

Déia Freitas: Então comentem lá no nosso grupo do Telegram, sejam gentis aí com Dona Vanda. Um beijo, Givaneide. [risos] Eu te amo… [risos] Um beijo, gente, e eu volto em breve. 

[vinheta] Quer a sua história contada aqui? Escreva para naoinviabilize@gmail.com. Picolé de Limão é mais um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]