Skip to main content

título: pitoco
data de publicação: 15/04/2024
quadro: picolé de limão
hashtag: #pitoco
personagens: daiane e evandro

TRANSCRIÇÃO

[vinheta] Picolé de Limão, o refresco ácido do seu dia. [vinheta]

Déia Freitas: Oi, gente… Cheguei. Cheguei para mais um Picolé de Limão. — E hoje eu não tô sozinha, meu publiii. — [efeito sonoro de crianças contentes] Quem está aqui comigo hoje de novo é a Hidrabene — a nossa amiga cor de rosinha que eu amo —, a Hidrabene acaba de lançar o “Hidrabene Lip Tint”, que cuida e deixa os seus lábios naturalmente coloridos por muito mais tempo. Eu recebi os dois Lip Tints da Hidrabene. — Maravilhosos, gente, maravilhosos. Eu fiquei com um e fui obrigada a dar o outro para a Janaina, porque vocês sabem como é a Janaina… Os dois são incríveis. Eu vou postar, né? Agora eu sou meio blogueirinha, eu vou postar lá no Instagram para vocês verem, é muito incrível. — O Hidrabene Lip Tint realça o tom natural dos lábios e das bochechas e oferece aí uma pigmentação perfeita. — Amo… — Ele é fácil, é prático de aplicar, tem longa durabilidade e sua fórmula foi desenvolvida com Alantoína, um ativo regenerador e calmante da pele. E tem ainda Pantenol — um ativo que auxilia na hidratação e reparação da pele — e tem também ácido hialurônico que preenche naturalmente as ruguinhas, garantindo uma textura mais uniforme. — Amo. — 

E o Lip Tint está disponível em duas cores: cereja e frutas vermelhas. — Eu amei os dois, eu fiquei com o frutas vermelhas e a Janaína ficou com cereja. Eu vou deixar o link certinho aqui na descrição do episódio, mas ó, já vai navegando no site aí no nosso site cor de rosinha: Hidrabene.com.br. — Oi, gente… Cheguei. Cheguei para mais um Picolé de Limão. — E hoje eu vou contar para vocês a história da Daiane. — Dependendo da sua classe social, você não vai conseguir captar todas as nuances dessa história. — Então vamos lá, vamos de história. 

[trilha] 

A Daiane ela cresceu aí numa comunidade… Ela veio muito nova com a família do Piauí e aqui o pai dela foi trabalhar em obra e tal e conseguiu um barraco mesmo, de madeira, e lá eles foram morar. Diferente dessa baboseira que as pessoas falam de “ah, se você se esforçar, você consegue”, dependendo de onde você está, se você se esforçar, você só consegue sobreviver, você não consegue mais nada. E esse era o caso da Daiane… Até que, por meio de políticas públicas — aleluia, Graças a Deus que existem boas políticas públicas na área de educação. Bom, sou suspeita para falar, né? Fiz uma série sobre políticas públicas, vocês podem procurar aqui no feed das histórias, tem a fotinho do Lula na capa, [risos] porque sim, são políticas públicas do governo PT e, graças a uma política pública dessas — a Daiane conseguiu estudar, conseguiu fazer faculdade e conseguiu melhorar um pouquinho ali a condição da família dela dentro ali daquele mesmo padrão de vida. — Daquela mesma classe social. A gente não está falando aqui de ascensão de classe, né? Está falando só de uma melhora, de você poder conseguir fazer as paredes de tijolo da sua casa. Só quem viveu sabe… —


E aí Daiane depois que se formou, naquela luta com a família, conheceu Evandro. — Aqui é importante dizer que Daiane é uma mulher negra, tá? Nessa história é muito importante tanto o recorte de classe quanto o recorte de raça. — Dentro da mesma comunidade, também terminando uma faculdade, Daiane conheceu Evandro: Um rapaz branco, também ali pobre como ela, de família pobre como ela, vindo de um remoto interior de São Paulo. — Também a família dele veio pra São Paulo, capital, pra melhorar de vida, para tentar sobreviver e foi parar nessa mesma comunidade e estava no mesmo processo de sair de uma casa de madeira, construindo paredes. Essa é a realidade. — E qual era a meta da Daiane e do Evandro? Melhorar a vida dos pais. — Eu me identifico muito com essa meta. Muita gente fala: “Mas, Andréia…”, quando você vem da pobreza, tudo o que você quer quando você ficar adulto, é melhorar a vida de seus pais. Então, essa sempre foi a minha luta, da Janaína também, da minhas primas também… Então, assim, além da gente sobreviver, a gente quer dar uma vida melhor para os nossos pais. Eu, no caso, e a Janaína… Todos morreram. [risos] Então, mas vocês tenham certeza que se meus pais estivessem vivos e os pais da Janaína estivessem vivos, hoje eu estaria trabalhando pra dar uma vida melhor pra eles, como eu estou trabalhando agora pra melhorar a vida da minha família toda, enfim… É assim que uma parte, uma parcela das pessoas que vem de onde eu vim pensam. E também Daiane e Evandro, agora namorando, pensavam assim. —


O que os pais da Daiane queriam? Eles vieram pra cá naquela ilusão de que aqui você vai ficar rico, mas se você é pobre, dificilmente você vai ficar rico, porque o pobre fica mais pobre, o rico fica mais rico. — Já dizia aquela música, né? O pobre cada vez mais pobre e o rico cada vez mais rico. Capitalismo é isso. — E o sonho deles era vir pra cá, fazer um dinheiro bom — isso os pais da Daiane, né? Negros nordestinos. — e voltar, comprar uma terrinha no Piauí e viver no Piauí. Os pais do Evandro a mesma coisa. — Vou dar uma cidade aqui… Do mesmo jeito que eu dei Piauí, que não é Piauí, né? É outro lugar do Nordeste. Eu vou dar outro lugar aqui de São Paulo também, então vamos dizer que seja Caçapava. — A família do Evandro veio de Caçapava e tinha também esse sonho de voltar para Caçapava. Daiane e Evandro namorando, eles conseguiram ali empregos melhores, resolveram se casar… [efeito sonoro de sino soando] Um ajudando o outro, um dando força para o outro, foram morar numa casa de aluguel e, antes de ter a casa própria — porque sim, o sonho das pessoas da classe C, diferente do que outras classes dizem: “Não invista num imóvel”, o sonho da pessoa da classe C é ter sim o seu imóvel, ter o seu sossego e não depender de aluguel. —, mas antes de concretizar esse sonho, tanto Daiane quanto Evandro eles queriam comprar o terreninho. 


Daiane lá no Piauí e Evandro lá em Caçapava para os pais. — E eu entendo totalmente isso… Eu faria a mesma coisa. — Trabalharam ali uns três anos pra isso, pra poder realizar esse sonho. Então, Daiane comprou um terreno no Piauí e levantou ali três cômodos, que foi uma vitória muito grande e os pais, mais o irmão de Daiane, voltaram para o Piauí e estão ótimos lá. O irmão da Daiane abriu uma microempresa de distribuição de água, de galão de água e ele está ótimo, excelente… Os pais estão lá, estão aposentados e a vida está muito boa agora para os pais lá no Piauí. Evandro comprou um terreno em Caçapava, construiu também três cômodos lá e voltaram para Caçapava os pais e mais a avó do Evandro, só que a irmã do Evandro ficou naquela casinha da comunidade que a família morava. Diferente dos pais da Daiane, que venderam a casinha da comunidade para alguém ali da comunidade mesmo voltaram para o Piauí sem ter essa casinha mais aqui na comunidade. Então, a irmã de Evandro, que era casada e já tinha duas crianças — e estava grávida da terceira criança — ficou nessa casinha. A vida passou… Agora já Daiane e Evandro focados em quê? Na casa própria deles.


E mais uma vez aqui: Obrigada aí políticas públicas de habitação… Conseguiram um apartamentinho de dois quartos, um apartamento pequeno, de 53 metros quadrados  num prédio popular. — Então, olha o passo já… Pra quem veio de um barraco de madeira, gente, é uma luta muito grande e são passos, assim, suados pra você chegar até seu apartamentinho de habitação popular, entendeu? — Estão lá, estão pagando as parcelas… — Porque agora você paga a parcela do que é seu, você não paga o aluguel… Então, poxa, já melhora 1000 vezes. — Pintaram do jeito que queriam… A Daiane queria uma cozinha planejada — como era muito pequenininho —, planejou a cozinha bonitinha, depois foi e fez ali os móveis do quarto e tal… Paralelo a isso, a irmã do Evandro nessa casinha. Acontece que no começo do ano, [efeito sonoro de trovões e chuva caindo] naquelas chuvas de verão, a comunidade foi atingida. — A comunidade que tanto Daiane quanto Evandro já tinham morado no passado e agora a irmã do Evandro estava morando, foi atingida… — E a casa — a casinha ali que era dos pais do Evandro — foi soterrada… 

Por uma sorte… Assim, eles estavam na casa meia hora antes, eles saíram com medo da chuva, eles não foram atingidos. — E, assim, a gente sabe que não tem nem o que dizer, né? Não tem nem o que dizer… A gente precisa de mais política de habitação popular que atenda pessoas que recebem menos de um salário mínimo, pessoas que estão em assentamentos, pessoas que estão em terrenos que são improdutivos e que estão invadidos… A gente precisa de mais política pública… Porque não comporta, é muita gente morando de maneira muito precária, em morros, encostas… E isso não é culpa das pessoas, né? Porque tem gente que fala assim: “Mas por que construiu o barraco ali?” e eu não consigo nem responder essas pessoas, sabe? Então, a gente não vai entrar aqui nesse mérito, que se não eu vou botar meu palanque aqui e vou passar meia hora xingando pessoas… — Então, foi tudo muito triste e, obviamente, Daiane e Evandro eles acolheram ali a irmã, o marido e as três crianças, porque o bebezinho agora já tinha nascido… E mais o cachorro Pitoco. — Pitoco também foi acolhido, né? Porque é importante também a gente não deixar os nossos animais para trás… — 


No apartamentinho de 53 metros quadrados, né? — Então, assim, gente… Fácil não é. Então, o que você faz quando você está morando, assim, num lugar pequeno? Você tem que ter regra para as coisas… Você tem que ter umas regras de convivência. — De pronto a Daiane conseguiu ali um colchão de casal. — Que era o que cabia no outro quarto, né? — Um colchão de casal e um colchão de solteiro. O colchão de casal dormia, os pais e o bebezinho e, no de solteiro, as duas crianças, porque são crianças pequenas e Pitoco dormia ali pela sala, enfim, onde Pitoco quisesse dormir. Eles perderam realmente tudo, eles ficaram até sem documentos, perderam tudo, gente… Tudo, tudo, tudo, tudo… Isso é muito difícil. E Daiane falou: “Bom, então agora a gente precisa ter umas regras aqui”, Daiane acorda muito cedo para ir trabalhar, então ela precisa usar o banheiro primeiro. — Um banheiro na casa. — Primeiro que a irmã do Evandro ela não seguia essa regra, então ela acordava muito cedo por causa das crianças e ela ocupava o banheiro as vezes por uma hora…


De chegar a vez do Evandro sair pra ir fazer xixi no posto de gasolina, porque ela não saía… E dá banho nas crianças, troca… Ficava com as três crianças no banheiro, tipo, uma hora… No horário que a Daiane precisava tomar um banho, se arrumar para ir trabalhar. Então ela começou a ir trabalhar sem tomar banho… — E, assim, gente, o banho da manhã para nós brasileiros ele é importante, né? — Então ela já ia trabalhar se sentindo um lixo assim, né? E aí tinha mais: A Daiane ensinou o Pitoco a usar essas fraldinhas, tapetinho higiênico de cachorro, mas ainda assim que o Pitoco fizesse todas as necessidades ali na lavanderia, no tapetinho, precisava dar uma volta com o Pitoco, porque Pitoco estava acostumado com a rua, Pitoco ficava solto na comunidade. Então, a Daiane teve que passar a dar essas voltas com o Pitoco antes de ir trabalhar e quando ela voltava, porque a família também não ajudava nisso. Eles estavam sem documentos, então você precisa dar esse desconto… Mas a Daiane descobriu ali que nenhum dos dois — O casal ali, né? — estava trabalhando…  — Mesmo antes de acontecer ali o deslizamento de terra, porque foi o deslizamento que destruiu ali a casa deles e eles foram morar com Daiane e Evandro. —


Aí ali ela descobriu que quem estava mandando um pouco de dinheiro para eles, para sobreviver ali, eram os pais do Evandro. — E, assim, eu entendo, ela tem três filhos, gente, é difícil você sair para trabalhar com três crianças pequenas. — O cara não estava trabalhando… E isso o próprio Evandro falou pra ele, falou: “Cara, mano, sei lá, vai nem se for pegar uma reciclagem, alguma coisa… Você tem que dar o leite das suas crianças. Como é que você estava fazendo? Viver só nas custas do meu pai é complicado”. A partir do momento que é a família do Evandro, a irmã, marido e os filhos entraram naquela casa, meio que eles não queriam mais sair… A prefeitura de São Paulo deu uns vouchers de aluguel, mas pra você pegar o voucher de aluguel, você tem que alugar um lugar… Não é assim, né? “Ah, vou pegar o dinheiro do aluguel e vou ficar aqui”, não… Mas eles não queriam nem ir lá. Foi uma luta para o Evandro e para a Daiane convencer, que primeiro eles tinham que ir no Poupa Tempo tirar os documentos. E, se você tira ali rapidamente um atestado de pobreza… — Só quem viveu sabe também, [risos] ter que tirar da comendo com atestado de pobreza que você não tem a taxa do RG. [risos] Eu sei até onde aqui em Santo André você tira o atestado de pobreza… Porque é isso, gente, quando você precisa de um documento e você não tem dinheiro, você faz isso… Você vai lá na defensoria e peça atestado de pobreza sim, porque você é pobre, entendeu?—


Então, você tira o atestado de pobreza, você vai e você tira os seus documentos. Eu nem sei como é isso agora, mas enfim, você consegue tirar os seus documentos se você não tem dinheiro para pagar as taxas… Você consegue. Graças também aí a políticas públicas, né? Eu sou aqui uma defensora voraz de políticas públicas, porque a política pública é para todos, rico, pobre para todo mundo… Diferente de quando você faz um projeto social de iniciativa privada com doações… Isso atinge só um pedacinho da população. Quando é uma política pública, principalmente se ela for aí no âmbito federal, você pode aplicar no Brasil todo, então isso é muito importante. Enfim, adoro esse tema… [risos] Falou de política pública eu puxo minha cadeirinha, já pego um café e falo: “Vamos?”, “vamos”. [risos]  Em dois meses, a Daiane falou que a casa dela tava um lixão. — Um lixão. — As crianças riscaram todas as paredes… — Pensa: Um apartamento novinho, que você pegou ali com a chave… Apartamento novo, zerado, ninguém tinha morado… — No quarto que eles tavam a Daiane tinha feito o guarda-roupa planejado, eles quebraram as portas do guarda-roupa… Eles não tinham o menor cuidado com as coisas. 

Os armários de cozinha da Daiane já estavam todos desalinhados… O fogão dela estava sem um pé. — E, gente, só quem botou tijolo embaixo do móvel [risos] sabe como é. Como isso de regredir é horrível… Você estava com o pé no móvel, sabe? Quando você põe tijolo no móvel, você caiu muitos degraus ali, sabe? [risos] — E aí aquilo foi adoecendo a Daiane… Sem contar que ela falou: “Andréia, era o Evandro, o casal adulto, mais três crianças… Eu, a única preta, eu me sentia a empregada daquele povo”.  Tendo opções… Qual era a opção? Você pegar ali o aluguel social da prefeitura e alugar um lugar… “Mas o aluguel social é só um ano”, em um ano você tem que ver o que você vai fazer, né? Ou voltar para Caçapava, porque aí vira um problema lá dos pais do Evandro.  — Daiane está errada de querer que eles saiam da casa? Não tá, gente… —


Evandro ao mesmo tempo que o Evandro queria que eles saíssem, pô, é família do Evandro, né? Então você fica meio assim… Mas a Daiane falou: “Andréia, não tava dando mais… Eu estava me sentindo a preta empregada daquele bando de branco quebrando minhas coisas”. Com três meses ela surtou e o que eles resolveram fazer? — E aí Daiane acha que também tem um pouco de drama e tal da coisa… — Eles resolveram voltar pra comunidade lá… E agora já onde era a casa deles, não existia mais… A casinha foi soterrada. E aí eles pegaram umas madeiras e construíram um barraco mais pra baixo… Só que nessa, o Pitoco que foi pra comunidade, voltou. — Imagina assim, ó: A comunidade é aqui, e o bairro da Daiane e do Evandro é, sei lá, dois bairros pra lá, uns km pra lá… Pitoco voltou. — Pitoco sozinho voltou lá pra portaria do prédio da Daiane. E aí a Daiane, que tinha colocado coleira e plaquinha no Pitoco, pegou o Pitoco. A irmã do Evandro e o marido começaram a dizer que a Daiane preferia cachorro à família do próprio marido. 


E aí a Daiane falou pra mim: “Pitoco Nunca me deu trabalho… Faz tudo no tapetinho higiênico… Eu saio com ele de manhã, já aproveito, faço meu cardio… Volto, me desligo do trabalho totalmente, deixo o meu celular aqui, pego o Pitoco, vou dar mais uma volta com Pitoco. Pitoco me trouxe saúde mental”, disse Daiane. [risos] “E eles quebraram a minha casa… Minha casa está destruída por causa deles”. — Só que o que aconteceu, gente? Passou ali… Isso três meses. Então, a gente estava falando de janeiro, agora a gente está falando de fevereiro, março, comecinho de abril… — O que veio mais, gente? [efeito sonoro de trovões e chuva caindo] Uma chuva fechando o verão… O que aconteceu com o barraco? Desabou. Para onde que eles voltaram? Para casa da Daiane. Já tinha rolado esse estresse por causa do Pitoco, porque o Pitoco traiu o movimento, [risos] traiu a família do Evandro. E aí já estava um clima ruim, mas eles voltaram para casa da Daiane, porque, lógico, você vai abrigar a sua família. Só que a Daiane falou pro Evandro, falou: “Olha, Evandro, não está dando mais para mim, ou a gente põe a sua família numa van… Eu pago a van… Até Caçapava. Ou você paga o aluguel deles… Aí como você vai fazer, eu não sei, mas em outro lugar, porque aqui eu não aguento mais. Eu não quero mais voltar para cá. Eu vou pegar Pitoco e vou me mudar”.

Mas aí o mudar da Daiane é voltar pro Piauí, entendeu? Ela também não quer. Isso era abril… Maio, junho, julho, agosto, setembro… Cinco meses de inferno. A cunhada dela, a irmã do Evandro, faz pirraça, quebra prato dela, risca panela… — E, pô, você casou, novinho, só os dois, sabe? Que ódio… E é difícil você comprar novo… Você não compra novo, gente, é uma luta pra você comprar novo. — Quebrou a televisão… E aí o Evandro queria tirar outra televisão lá no carnê e ela falou: “Não, não vamos tirar, não, vamos ficar sem televisão. Eles não quebraram? Vamos ficar sem televisão”. E aí, agora em setembro a Daiane aproveitou uma data festiva que seria o aniversário da mãe do Evandro e foram todos para Caçapava. — Todos… — Eles alugaram uma van, Evandro foi dirigindo… — Pitoco ficou aqui com uma amiga da Daiane, porque Daiane tinha um plano… — Eles alugaram essa van num sistema que você pode deixar o carro numa cidade próxima, uma coisa assim… E eles foram até o lugar e Daiane devolveu a van. Inventou lá que a van era só ida, que não podia ter a volta no aluguel… — Isso até para o marido, tá? — E aí na hora de voltar, ela falou: “Eu volto primeiro com o Evandro de ônibus, que a gente não vai ter dinheiro para todo mundo voltar de ônibus e depois a gente manda o dinheiro para vocês voltarem”, e aí eles estão em Caçapava até hoje. [risos] 


A Daiane está convencendo o marido de construir três cômodos. Ela falou: “Não, a gente paga… A gente financia esse material de construção e a gente paga…” Três cômodos lá, porque o terreno lá é grande, que o Evandro comprou. Em Caçapava… Porque o cara já não trabalha… Não trabalha aqui e não trabalha lá, né? Não é que ele tinha um emprego aqui e vai perder. Para a família, para a irmã do Evandro ficar lá em Caçapava. E aí, como eles falaram de construir a casa, meio que a irmã do Evandro já tá animada, né? Tipo, “Ah, então vocês vão construir aqui pra gente?”. E aí a Daiane tá nessa agora com o Evandro, falando: “Não, vamos sim, a gente vai construir para vocês aí, pelo menos 3 cômodos e depois vocês vão aumentando”. — Como os pais, né? — Os pais já fizeram mais três cômodos… — Não é que a família tá apertada, né? Agora estão lá, são quatro adultos e três crianças. — O Evandro agora já está convencido e Daiane já está organizando tudo e ela falou: “Andréia, eu vou pagar junto? Vou pagar, porque a gente é casal, a gente faz tudo junto, mas eu vou pagar pela minha paz, que nunca mais vão voltar aqui”. A Daiane falou: “Andréia, pra você ter uma noção, nem o Pitoco gosta deles mais”. [risos] O Pitoco a hora que viu a vida boa ali com Daiane, falou: “O que? Eu vou voltar com eles? Não vou, não…” [risos] Ê, Pitoco…

E até hoje a família fala que Daiane prefere o Pitoco do que a família do Evandro e Daiane falou: “Andréia, eu fico calado porque não mentirei”. [risos] Não é que a família não sabe abrir a porta do guarda-roupa, sabem… Faziam porque não tinha cuidado mesmo. São coisas que foram muito difíceis de ser conquistada e a Daiane falou: “Andréia, a minha casa hoje está toda quebrada, eu não tenho como arrumar agora, então a gente vai fazendo aos poucos, assim… Eu comprei a tinta, a gente mesmo pintou as paredes que estavam todas riscadas e sujas… As crianças… O do meio usava fralda, estava desfraldando, passava cocô nas paredes…”. Coisa de criança, acontece… Mas se tá o pai e a mãe sem trabalhar ali dentro da casa, você não vai limpar essa parede que está com cocô? Você vai deixar para Daiane limpar a parede de cocô da sua criança, sabe? E aí realmente para mim pega isso, dela ser a única preta ali e eles deixarem tudo pra ela limpar. Isso me pega, isso me revolta um pouco, entendeu? Isso me revolta… Do mesmo jeito que Daiane foi vendo e ficou revoltada. 


Daiane ainda briga, [risos] porque o Pitoco é um vira lata de porte até grande, ele é Pitoco, mas ele é grande… Ele é de, sei lá, do tamanho do Aroldinho da minha prima aqui… Ele é porte grande, preto e ela falou: “Agora, Andréia, aqui pelo menos em casa é dois preto e um branco”. [risos] — Ê, Daiane… [risos] Não compara, né, Daiane? [risos] Ela e Pitoco e o marido branco. — Então, assim, ela falou: “Andréia, eles destruíram minha casa… Eu entendo, eu abriguei… A gente fez o que pode pela família, mas também tem uma hora que você tem que começar a fazer por você, né?” e ela falou: “Eu amo o Evandro, eu entendo que é a família dele e tal, mas minha família nunca me deu esse tipo de trabalho, minha família nunca quebrou nada, sabe?” e a família dela vem do Piauí e fica com eles… — Poxa, sabe? Então, sei lá, é criação? É a pessoa que não tem educação mesmo, é a vida? Não sabemos… Pode ser, sabe? Maus tratos da vida… Pode ser também, mas você que está ali do outro lado, conquistando as suas coisas, é difícil você ver as pessoas quebrando seus móveis planejados, passando merda na sua parede, sabe? —


Ela falou: “Andréia, nem merda de Pitoco… Ele fazia no tapetinho… Pitoco em três dias aprendeu… Como que agora eu chego em casa tenho que limpar merda de parede porque a irmã do meu marido tá o dia inteiro sentada no celular e não… Sabe?” e o marido que não vai no Poupa Tempo, não tira esse documento… Porque aí virou a desculpa: “Eu não posso arranjar um emprego porque eu não tenho documento”, vai no Poupa Tempo e tira, você vai conseguir tirar de graça, né? Agora já arrumaram um pedreiro lá e vão construir lá, porque aí não tem mais desculpa, né? Fica lá… Daiane falou pro Evandro, falou: “A partir do momento que a gente terminar essa construção lá, acabou… Vem pra cá só para visitar. Dois dias. E volta… Não quero ninguém, falou: olha, o estado que está o apartamento” e o Evandro sabe que é verdade… O Evandro também ficava aborrecido, mas é a família dele, né? A Daiane escreveu pra gente porque ela falou: “Andréia, para vocês eu posso falar que realmente sim, prefiro o Pitoco. Prefiro mil vezes Pitoco. Pitoco, olha… Me trouxe saúde mental, me trouxe amor, me trouxe alegria, foi a única coisa que a família do Evandro realmente me deu de bom… Foi Pitoco”. [risos] Então é isso, essa é a confissão de Daiane… Ela falou: “Gente, será que eu estou errada? Porque, assim, eu entendo, sabe… Deslizamento de terra… Eu entendo que eles ficaram desabrigados, mas eu que tenho que bancar a vida toda agora isso? Não tem como”.


Então aí trouxe camadas e camadas…. — Essa história, se você veio do mesmo lugar que Daiane, Evandro, eu e muita gente, você vai saber as camadas que tem nessa história… E se você também está em um relacionamento aí interracial, onde um é branco e outro é preto, você também vai entender as camadas dessa história um pouco melhor, né? — O que vocês acham?

[trilha]

Assinante 1: Olá, Deia, olá, Não Inviabilizers, aqui é a Gabi do Rio de Janeiro. Eu achei o máximo esse plano que a Daiane bolou para poder tirar essa galera de dentro da casa dela. [risos] Eu acho que ela foi genial, inclusive o migué que ela deu, que só dava pra ir de uma viagem e não dava pra voltar. Daiane, eu acho que você está certíssima, você acolheu a família do seu marido, a sua cunhada, a família dela quando eles precisaram, mas depois de sei lá, um mês, já vira folga. Amiga, você tem todo o meu apoio incondicional, te defenderei até o fim. Beijos. 

Assinante 2: Oi, gente, eu sou a Ana de BH. Recentemente eu vivi essa experiência de abrigar alguém na minha casa, mesmo que fosse por alguns dias só, mas assim, foi uma experiência péssima. Realmente as pessoas não tem o cuidado e carinho com as suas coisas, do mesmo jeito que a gente, que sabe que aquilo ali foi suor do nosso trabalho, então é horrível e, muitas das vezes, a gente não coloca limites e a gente acaba virando empregado da pessoa que tá ali dependendo de você e da sua casa. Daiane, eu espero que você se imponha, que você coloque limites da sua família, da família, do seu marido… Ninguém é obrigado a trabalhar e viver dessa forma e ter suas coisas estragadas desse jeito, então eu espero que isso não volte a acontecer. Um beijo grande. 

[trilha] 

Déia Freitas: Conheça o lançamento da Hidrabene, o Hidrabene Lip Tint, que cuida e deixa ir a sua make e seus lábios naturalmente coloridos por um longo tempo. Ele está disponível em duas cores: cereja e frutas vermelhas. — Amo, as duas são lindas. — O Hidrabene Lip Tint possui Pantenol, Alantoína e ácido hialurônico na sua fórmula e vai te garantir aí uma hidratação incrível, maravilhosa e uma textura bem uniforme. E com nosso cupom: PICOLE10 — tudo em maiúsculo, sem acento, O dez em numeral —, você ganha 10% de desconto em todo o site, sem valor mínimo. — Eu vou deixar tudo aqui certinho na descrição do episódio, tá? — Hidrabene.com.br, te amo, Hidrabene. Um beijo, gente, e eu volto em breve. 

[vinheta] Quer a sua história contada aqui? Escreva para naoinviabilize@gmail.com. Picolé de Limão é mais um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]