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título: menino
data de publicação: 29/01/2022
quadro: picolé de limão
hashtag: #menino
personagens: soraya e marido

TRANSCRIÇÃO

[vinheta] Picolé de Limão, o refresco ácido do seu dia. [vinheta]

Déia Freitas: Oi, gente… Cheguei. Cheguei pra mais um Picolé de Limão. — E hoje eu não estou sozinha, meu publi. — [efeito sonoro de crianças contentes] A campanha Você Não Está maluca da Johnson & Johnson sobre a saúde mental da mulher foi tão massa, deu tão certo que a gente resolveu contar mais uma história num episódio extra. Você pode voltar o feed aqui e acompanhar as histórias da trilogia que a gente fez. — As histórias são: Colega de Apartamento, A Chefe e O Legalzão. — E hoje eu vou contar para vocês a história da Soraya. — É uma história de mãe cansada e a dinâmica de adoecimento emocional e mental que o marido a submetia. — Então vamos lá, vamos de história. 

A Soraya aos 20 anos ali, quase 21, se casou… — Ela é uma professora, né? — E quando ela estava com 21, ela engravidou ali do primeiro bebezinho. E logo no início da gravidez, ela já ficou sabendo que seria uma gravidez de risco, porque ela tinha o colo do útero muito curto. — E aí isso requeria vários cuidados, repouso, etc. — Quando a Soraya chegou no quarto mês ali de gravidez, ela teve de fazer uma cerclagem. — Que é tipo uns pontinhos ali no útero pra segurar esse bebezinho lá dentro. — E aí os tormentos começaram… Porque nos ultrassons, não dava para ver se era um menino ou uma menina que a Soraya ia ter… E o marido dela não aceitava que fosse uma menina. 

Ele dizia que ele jamais geraria uma menina e, que se fosse uma menina, então significava que não era uma filha dele… Não era um filho dele. Agora imagina você enfrentando uma gestação ali de risco, já tendo que ter vários cuidados, você sozinha ali com seu marido e ele falando todo dia na sua cabeça que tinha que ser um menino… Porque se não fosse um menino, não era filho dele. E isso todo dia… — Todo dia na cabeça dela. — Quando a Soraya estava no sétimo mês, era um dia, assim, à noite e a bolsa dela estourou. E ela ligou para o médico e o médico falou: “Olha, vai para o hospital que eu estou indo e nã nã nã”. 

E aí ela pediu para esse cara, que levasse ela até a maternidade e que fosse com ela, enfim… E ele levou até lá a porta da maternidade e deixou ela lá e falou que só voltava se fosse um menino. Ela foi internada, né? Com dores e tal, era mais ou menos meia noite e meia assim. E esse cara deixou ela lá e foi embora… Deixou a Soraya sozinha no hospital, com as dores ali do parto. — Preocupada, porque ela estava só de sete meses ainda, né? Se ia dar tudo certo, enfim… — E ele ainda falou assim para a Soraya, falou: [efeito sonoro de voz grossa] “Olha, eu nem vou avisar sua família que você está aí parindo… E faça-me o favor: se for menina, você daqui, quando você tiver alta, você já pega o seu rumo, você vai para outro lugar… Pra minha casa você não volta”. — Desse jeito… Com ela tendo as dores lá. —

Então, nenhum familiar dela foi avisado, então ninguém ficou com ela no hospital… Ela teve a sorte de ter sido internada ali num quarto que estava uma conhecida dela, — Da Igreja. — e foi essa conhecida que ficou ali dando apoio… E mais uma outra moça que estava lá de acompanhante dela, porque o médico falou que, assim, quanto mais tempo ela aguentasse as contrações, era melhor para o bebê. [efeito sonoro de mulher gritando de dor ao fundo] Então ela ficou ali tendo contrações por 12 horas… — 12 horas. — Sozinha, sem saber o que ia acontecer, se o bebezinho ia nascer bem… Pior, se ia nascer menino, porque não deu para ver. — No ultrassom. —

E, se fosse uma menina, para onde ela iria? — Ela ficou pensando essas coisas. — Depois de mais de 12 horas ali de contrações, trabalho de parto e tal, nasceu um bebezinho. — Um menino. — O hospital ligou para o marido da Soraya e só então ele avisou a família dela, né? — Porque, assim… — Como ela ficou sozinha no hospital, se ela tivesse como avisar, ela avisaria a mãe e a irmã, mas ele meio que proibiu, né? — Então ela acabou não avisando e tal, né? — Quando ela chegou em casa com o bebezinho… — O bebezinho ficou uns dias ali na incubadora e depois foi para casa. — O bebezinho chorava, né? Porque como eu sempre digo aqui nas histórias, bebezinho choram… 

A sogra da Soraya tinha vindo para dar uma força, mas foi pior ainda… Porque ela se juntou com o filho para dizer que a Soraya não conseguia nem cuidar de um bebê, e que o bebezinho chorava daquele jeito porque o leite da Soraya era fraco, porque ela não sabia cuidar do próprio filho. E, assim, foi tanto tormento, tanto tormento, que o leite da Soraya secou. Ela viveu esse período, esse início da maternidade com esse cara jogando na cara dela que, além de… — Ainda bem que era um menino, mas assim… — Que ela não sabia cuidar… Isso durou quatro anos… — Quatro anos esse cara falando na cabeça dela. —

E aí ela teve coragem de largar… O dia que ela largou, falou: “Olha, eu não quero mais, nã nã nã”, naquele alívio… Passou duas semanas, gente, que ela tinha largado ele, ela descobriu que ela estava grávida… Na escola que ela trabalhava, a própria mãe dela, todo mundo achando que o cara largou ela, né? — Que não foi ela que se separou. — Que o cara largou ela porque ela estava grávida de outro homem. — Então, a segunda gravidez de Soraya foi nessa vibe. — As pessoas achando que o cara terminou com ela porque ela estava grávida de outro. Além de todo esse falatório que ela aguentou, das pessoas dizendo que esse segundo bebezinho não era do marido que ela tinha acabado de se separar e todo mundo falava que era ele que tinha separado, ela teve os mesmos problemas de saúde… 

Então teve que fazer a cerclagem e o repouso e nã nã nã… E aí nasceu uma menina. — E lógico que ela não queria voltar com o cara. — E aí ficou impossível mesmo, né? Porque ele não aceitava — De jeito nenhum. — ter uma filha mulher. Essa história tem mais de 20 anos, a segunda bebezinho da Soraya nasceu muito bem, ela foi vivendo a vida, né? Com os dois filhos sem este homem aí que era o pai das crianças do lado. E aí depois de um tempo, ela reencontrou um amor de infância e aí se casou com esse amor e tá até hoje… [efeito sonoro de sino batendo] — Quem sabe um dia a gente conta essa história de Amor nas Redes. —

Mas, gente, olha só o que esse cara fez na vida da Soraya na primeira gravidez e até na segunda, né? Porque meio que ele não desmentiu nunca essa história da traição que nunca existiu e que não foi ele que pediu o divórcio, foi ela… Então ela foi atormentada e adoecida mentalmente aí nas duas gravidez. — Gravidezes? Gravidez… Gravidezes, enfim… — Ainda bem que ela conseguiu sair disso. Não saiu ilesa, mas saiu. 

[trilha]

Assinante 1: Olá, pessoal, eu sou a Fernanda, falo de Campinas, interior de São Paulo. Soraya, eu sinto muito que você tenha passado por essa situação, sua história me sensibilizou bastante. É incrível que nós, mulheres, mesmo quando a gente está certa, a gente é vista como errada por grande parte da sociedade. Eu fiquei muito feliz quando eu ouvi que você conseguiu largar esse cara e ficar sem ele, mesmo nos momentos mais difíceis. E foi um alento para o meu coração ouvir que você encontrou, reencontrou esse seu amor aí de infância. Realmente, como a Déia falou, é muito importante essa rede de apoio, essa rede que te apoia e não te julga, independente da situação. Eu desejo tudo de melhor para você e para os seus filhos. Um grande beijo. 

Assinante 2: Oi, Déia, oi, gente, aqui é Catarina, eu moro em Portugal. Soraya, eu queria muito te abraçar… Por tudo. Não só pela primeira gestação, mas a segunda que nem a sua mãe lhe deu apoio. É muito ruim isso, né? Quando a gente sai de um relacionamento abusivo, sei lá como, eles sempre revertem… Mas eu fiquei muito feliz que você saiu, fiquei mais feliz ainda que você encontrou o amor que você merece e eu te desejo toda felicidade do mundo. Que sempre haja amor, que sempre haja paz e que você saiba enxergar os limites… Que você não vá cedendo por amor, você é mais importante. Você precisa estar bem para cuidar de seus filhos, das outras pessoas, você é a pessoa mais importante da sua vida. Um forte abraço. 

Déia Freitas: Bom, essa é a história da Soraya, uma história difícil, né? De duas gestações aí conturbadas. Ainda bem que ela saiu disso, está bem, enfim… E eu queria dizer para vocês que eu adorei participar dessa campanha da Johnson & Johnson e lembrar que você não está maluca. Mesmo que tenham feito você acreditar ou você se sentir do jeito que você se sente, ou pelo jeito que você vive ou por quem você é. A Johnson & Johnson tem um material muito bacana, eu vou deixar os links aqui para vocês… E, gente, sempre que vocês sentirem necessidade, procurem uma rede de apoio, procurem ajuda médica e tamo junto. Um beijo e eu volto em breve. Valeu, Johnson & Johnson, que agora eu chamo de Jay Jay. 

[vinheta] Quer a sua história contada aqui? Escreva para naoinviabilize@gmail.com. Picolé de Limão é mais um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]
Dourado

Dourado é pai, abandonou a teologia e a administração para seguir a carreira em TI e sua paixão por fotografia. Gosta de cinema, séries, música e odeia whatsapp, sempre usou Telegram.